Brazil
September 4, 2022
Plantas transgênica, ou plantas geneticamente modificadas (GM) são as plantas que receberam um ou mais genes em seu genoma, utilizando-se de alguma técnica de engenharia genética. Os genes introduzidos podem ser provenientes de outras espécies, como por exemplo plantas, bactérias, vírus etc. Em algumas aplicações, não é necessário que seja introduzido um gene, mas apenas um pequeno pedaço de DNA, que irá interagir com genes da planta ou de patógenos que atacam a planta, conferindo resistência a uma praga ou doença, por exemplo. Nesses casos, esse pedaço de DNA irá produzir nas plantas um pequeno RNA, os chamados RNAs de interferência, ou RNAi, e esse RNAi irá bloquear a expressão de algum gene da planta ou de algum patógeno.
A planta resultante dessa introdução de genes ou de pequenos pedaços DNA é muito semelhante a planta original. Por exemplo o milho tem entre 50 mil e 60 mil genes em seu genoma. Cada gene introduzido por engenharia genética representa menos de 0,002% dos genes do milho. A diferença genética entre plantas de híbridos ou variedades convencionais diferentes pode variar de pouco mais de 1% até mais de 50%.
Figura 1. A inserção de um gene exógeno (transgênico) no genoma do milho representa uma alteração muito pequena no genoma do milho. Cada gene inserido no milho representa menos 0,002% dos genes do milho.
Figura 2. As diferenças genéticas existente entre uma planta convencional e a planta transgênica após a inserção dos eventos transgênicos nessa planta são muito próximas a zero. As diferenças genéticas entre plantas convencionais de variedades ou híbridos diferentes costuma ser muito maior.
Sustentabilidade da agricultura: o papel das plantas transgênicas
Com essa pequena alteração de menos de 0,01% no genoma das plantas, considerando a inserção de vários genes, as plantas transgênicas adquirem características adicionais que as tornam melhores para a produção agrícola ou para o consumo. Por exemplo, as plantas transgênicas utilizadas atualmente na agricultura ganharam características como tolerância a herbicidas, resistência a insetos e viroses, melhor qualidade nutricional, ou maior tolerância a estresses ambientais. Com isso é possível tornar a produção mais simples.
Os eventos transgênicos que conferem tolerância a herbicidas e resistência a insetos não conferem aumento de produtividade diretamente. Mas ao protegerem as plantas da competição com as plantas daninhas e dos danos causados pelos insetos, essas plantas transgênicas protegem o potencial produtivo das plantas. Ao final, a produtividade é maior devido à redução das perdas que seriam causadas pelas pragas e plantas daninhas. Além disso, por facilitar o controle de pragas e de plantas daninhas, foi possível incluir novas áreas para a produção de alimentos, e que antes eram consideradas inadequadas para a agricultura. Como resultado, é possível aumentar a produção de alimentos sem a necessidade de avançar sobre as áreas de preservação, colaborando de forma significativa para a preservação ambiental. Um estudo feito pela instituição ISAAA (International Service for the Acquisition of Agri-biotech Applications - Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações de Agrobiotecnologia) (https://www.isaaa.org/resources/publications/briefs/55/executivesummary/default.asp) indica que apenas em 2018 foram produzidas 86,9 milhões de toneladas a mais de alimentos devido ao uso de plantas transgênicas. E que isso significaria a necessidade de 24,3 milhões de ha a mais para produzir a mesma quantidade de alimentos sem o uso de plantas transgênicas. Isso significa a preservação de florestas e outras áreas de conservação graças ao uso das plantas transgênicas.
Além disso, as plantas transgênicas tolerantes a herbicidas e resistentes a insetos exigem menos aplicação de herbicidas e inseticidas, tornando a produção agrícola mais barata e menos poluente, tanto pela menor aplicação de defensivos químicos, como pela menor emissão de CO2, devido ao menor número de operações com tratores nas lavouras. E um benefício adicional, que não pode ser desconsiderado, é a simplificação das operações nas áreas de produção. Para o controle de plantas daninhas ou de pragas nas lavouras de plantas não transgênicas, o momento da aplicação dos defensivos é muito importante para um bom controle. Mas nem sempre é possível realizar as pulverizações no momento ideal, seja por excesso de chuva, seca ou calor. E nesses casos o controle fica deficiente, resultando em perdas na produção. Nas lavouras de plantas transgênicas, além do menor número de pulverizações necessárias, os agricultores têm mais flexibilidade em relação ao momento que cada operação precisa ser executada, tornando a operação mais simples e eficientes.
Os dados estatísticos em relação ao impacto ambiental do cultivo de plantas transgênicas demoram algum tempo para serem compilados e divulgados. E os dados disponíveis demonstram que o cultivo de plantas transgênicas tem um impacto muito positivo para a conservação ambiental. No ano de 2018, por exemplo, o mundo cultivou 191,7 milhões de ha de plantas transgênicas, e com isso deixou de emitir 23 bilhões de kg de CO2 (https://www.isaaa.org/resources/publications/briefs/55/executivesummary/default.asp). Isso equivale a tirar das ruas 15,3 milhões de carros durante um ano, ou a metade de todos os veículos do estado de São Paulo.
Em relação a redução no uso de defensivos agrícolas, apenas no ano de 2018 os agricultores que cultivaram plantas transgênicas em todo o mundo, deixaram de aplicar 51,7 milhões de kg de ingrediente ativo de defensivos agrícolas. Uma média de 0,26kg de ingrediente ativo por ha no ano. Desde 1996, primeiro ano de cultivo de plantas transgênicas no mundo, 776 milhões de kg de ingredientes ativos de defensivos agrícolas deixaram de ser usados no mundo. Isso significa a redução de 8,3% na quantidade de defensivos agrícolas usados em todo o mundo no período.
Autor: Ivan Schuster