Brazil
May 20, 2016
O Brasil é referência quando o assunto é agropecuária. Mesmo no cenário econômico atual, o setor é um dos que vêm sobrevivendo aos percalços e mantendo seu crescimento. Prova disso são os resultados da safra brasileira de soja de 2015/16. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB, foram produzidas mais de 101 milhões de toneladas em cerca de 33 milhões de hectares.
Entre outros, dois dos motivos para este bom desempenho são as diversas tecnologias cada vez mais presentes no campo e ao protagonismo que o País exerce no âmbito científico, especialmente no ramo de sementes. Apesar dos bons indicadores, o resultado também representa um grande desafio ao setor produtivo de sementes dessa espécie, já que estima-se que 70% desta produção tenha ocorrido em áreas tropicais, o que demanda a utilização de técnicas especiais. Ainda assim, as empresas têm disponibilizado no mercado nacional sementes de elevada germinação e vigor, oferecendo aos agricultores as melhores tecnologias disponíveis no mercado.
Isto proporciona a germinação e a emergência de plântulas em campo de maneira rápida e uniforme, resultando na produção de plantas de alto desempenho e com um potencial produtivo mais elevado. Estas plantas, por sua vez, apresentam uma taxa de crescimento maior, têm uma melhor estrutura de produção, com um sistema radicular mais profundo e produzem um maior número de vagens e de sementes. O resultado? Maiores produtividades, especialmente em situações de estresse, como em períodos secos, uma vez que o sistema radicular mais profundo destas plantas terá condições de supri-las com água e nutrientes, assegurando a produção.
Vigor de sementes
Segundo a associação Oficial dos Analistas de Sementes dos Estados Unidos (AOSA), o termo “vigor de sementes” envolve “aquelas propriedades das sementes que determinam o seu potencial para uma emergência rápida e uniforme e o desenvolvimento de plântulas normais sob ampla diversidade de condições de ambiente”. A definição é bastante ampla e contempla fatores importantíssimos: a emergência rápida e uniforme das plantas, seu desenvolvimento normal e o desempenho das sementes independentemente das condições ambientais.
Apesar deste conceito ter se difundindo durante os últimos anos, muitos produtores ainda não o conhecem completamente e creem que basta obter a população ideal de plantas, recomendada para cada cultivar, para que o estabelecimento e a produtividade da lavoura estejam assegurados.
Um exemplo clássico é aquele produtor que adquire sementes de vigor médio ou baixo e acredita que, com o aumento da densidade de semeadura, poderá obter o estande ideal de plantas para aquela cultivar. Até certo ponto, isto pode ser verdadeiro, porém, certamente, as plantas que compõem esta população não terão alto desempenho e a lavoura, consequentemente, não se desenvolverá em toda sua potencialidade.
Estudos comprovam
Já em 1979, uma pesquisa realizada por Pinthus e Kimel com a cultivar de soja Clark apontou para as vantagens de sementes de alto vigor. Os autores semearam a cultivar em centenas de potes com cerca de 10 cm de diâmetro, com uma semente por pote. Após a emergência, cada pote foi identificado, de acordo com a velocidade de emergência das plântulas: as que emergiram muito rapidamente, aos 4 dias, foram classificadas como vigor muito alto; as que emergiram aos 5 dias, como vigor alto; aos 6 dias, vigor médio; aos 7 e 8 dias, vigor baixo. Essas plântulas foram transplantadas para condições de campo, em parcelas experimentais, cada uma composta por duas linhas com 6 m de comprimento e com uma densidade de 12,5 plantas/m linear. Aos 60 dias após a emergência, foi verificado que as plantas originadas de sementes de vigor muito alto produziram 41% mais de matéria seca em relação às de baixo vigor. Por ocasião da colheita essas plantas tiveram uma produtividade 31% superior em relação às de baixo vigor.
Diversas pesquisas realizadas no Brasil também atestam as afirmações feitas anteriormente.. Uma das primeiras, de 1983, contou, inclusive, com contribuições de membros da ABRATES, o ex-presidente e atual diretor financeiro José de Barros França Neto e o atual presidente Francisco Krzyzanowski, além de outros pesquisadores. No trabalho em questão, foram avaliadas as três cultivares de soja mais cultivadas há época no Estado do Paraná (Paraná, Davis e Bossier), com três níveis de vigor (alto, médio e baixo) e alta densidade de semeadura. Após a emergência, realizou-se um desbaste deixando a mesma população de plantas - que era a recomendada para as referidas cultivares na época - para todos os tratamentos (400 mil plantas/ha). Na colheita, as plantas originadas de sementes de alto vigor foram 12,8% mais altas do que as de baixo vigor e a produtividade foi superior em 24,3%.
Mais recentemente, já em 2005, Eliane Maria Kolchinski, Luis Osmar Braga Schuch e Silmar Teichert Peske realizaram um trabalho, em Pelotas (RS), utilizando sementes com um gradiente de cinco níveis de vigor: baixo, com 70% de emergência em canteiro e 75% de germinação, até vigor alto, com emergência de 95% e germinação de 94%. Tais níveis foram criados mediante a mescla de sementes de alto e baixo vigor nas seguintes proporções: 100% alto vigor; 75% alto e 25% baixo; 50% alto e 50% baixo; 25% alto e 75% baixo; e 100% de baixo vigor. Os autores verificaram que as plantas oriundas de sementes do mais alto vigor produziram 25% a mais de vagens por planta, resultando em parcelas experimentais com 35% a mais de rendimento de grãos em relação às oriundas de sementes de baixo vigor.
Um aspecto comum entre esses três trabalhos, que foram realizados em condições bem diversas, foi que o aumento na produtividade de grãos, com o uso de sementes de elevado vigor, variou de 24,3% a 35%, índices muito expressivos. Vale ressaltar que essas respostas ocorreram em condições experimentais. Mas, caso sejam obtidas em lavoura e ao redor de 5% a 10%, mesmo que inferiores, com certeza, serão significativas, justificando a utilização de sementes de alto vigor.
Portanto, baseando-se nos trabalhos citados anteriormente e nos diversos conhecimentos da área de sementes, pode-se concluir que: para a cultura da soja, é de suma importância utilizar sementes do mais alto vigor, visando obter um estande adequado, com plantas vigorosas; sementes de alto vigor têm maiores índices e velocidade de germinação e de emergência, mesmo em condições de estresse; plântulas que emergem mais cedo têm vantagens competitivas sobre as que emergem mais tarde, pois têm melhor aproveitamento de água, luz e nutrientes e o processo fotossintético das plantas é iniciado mais cedo e de maneira mais eficiente; plantas vigorosas apresentam uma taxa de crescimento maior, tendo maior acúmulo de matéria seca e resultando em uma maior área foliar e melhor sistema radicular; essas plantas têm maior capacidade de produção de vagens e sementes e, consequentemente, têm um maior potencial de rendimento de grãos.
Para os pesquisadores e estudiosos, o tema é sempre pertinente e os avanços são recorrentes, por isso a necessidade de estar em constante atualização. Para os agricultores, atenção e consciência - é preciso conhecer as opções disponíveis no mercado e as tecnologias inclusas em cada uma delas para sempre poder optar por aquela que trará o melhor resultado.