Brazil
January 22, 2013
Ela é uma velha conhecida da cadeia produtiva da cebola e do alho, e considerada uma das mais sérias ameaças ao cultivo dessas hortaliças, podendo inviabilizar o plantio de uma região inteira: o perigo chama-se podridão branca, causada pelo fungo Sclerotium cepivorum Berkeley, que sobrevive no solo ou em restos culturais por oito a 20 anos. “Não existem variedades resistentes a essa doença, e o que nós recomendamos baseia-se em ações preventivas para evitar a introdução do patógeno em novas áreas”, assinala o pesquisador Ricardo Pereira. Ele acrescenta que o trabalho desenvolvido pela Embrapa Hortaliças (Brasília-DF) nesse sentido também visa controlar a disseminação, caso seja detectada a ocorrência da podridão branca em áreas próximas.
Segundo o pesquisador, nos casos em que existem riscos de uma área ser infectada, o produtor é orientado a respeito da importância do não compartilhamento de ferramentas e maquinários agrícolas, a exemplo de um produtor de alho da Bahia, que evitou a contaminação “criando uma espécie de cordão de isolamento”. “Vale lembrar a iniciativa desse produtor baiano, que isolou a área que não havia sido infectada e utilizou água de poço artesiano e maquinário próprio, uma ação de prevenção que se mostrou eficiente”, registra Ricardo, que chama a atenção para o que considera como ações equivocadas por parte de alguns produtores, com relação à utilização da tecnologia de rotação de culturas como uma das maneiras de redução da população do fungo e, consequentemente, da ocorrência da podridão branca.
- Trocar as espécies vegetais a cada novo plantio não funciona com o fungo. Por residir na matéria orgânica do solo, e formar estruturas de resistência, mesmo se não for plantado nada durante 20 anos, sobrevive da mesma maneira, assinala o pesquisador, que recomenda a solarização em pequenas áreas ao invés da rotação. “Trata-se de uma técnica de cobertura do solo úmido com lona transparente, que pode fazer a temperatura chegar a até 70ºC, e que resulta numa boa esterilização, reduzindo a infestação”, ensina.
O relato de ocorrências da podridão branca em cultivos de cebola e alho em localidades próximas acendeu a luz vermelha em áreas cultivadas da região do Cerrado. O pesquisador e chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia Warley Nascimento lembra que na última reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Hortaliças, em seis de dezembro último, o presidente da Associação Nacional dos Produtores de Alho (Anapa) Rafael Corsino solicitou uma atenção especial da Unidade de pesquisa para com o problema. “Apesar de não ser uma doença recente, a podridão branca assusta – principalmente os grandes produtores – pelo seu poder devastador”, anota Warley. Ele informa que “está sendo produzido material informativo, com orientações que podem ajudar o produtor a introduzir um tipo de barreira sanitária contra a infestação do fungo.”
EXPERIÊNCIA
O nome podridão branca é, de longa data, bastante familiar à pesquisadora Ronessa Bartolomeu, da área de produção orgânica de hortaliças. Ela conta que a doença provocou o êxodo de diversos produtores da zona rural de Ouro Preto, Minas Gerais (São Bartolomeu, Glaura e Amarantina), que viviam do cultivo de alho, inclusive a sua família.
“O nosso meio de subsistência era a produção e comercialização de alho, e quando a doença apareceu acabou com tudo, nos forçando e a outras famílias a buscar outros meios de sobrevivência”, relata a pesquisadora, para quem o termo “pra sempre” resume o destino da cultura naquela região: “Até hoje, não há notícias de que essa hortaliça voltou a ser cultivada naquelas localidades”.
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