October 7, 2004
Gabriela Guerreiro e Marcos
Chagas
Repórteres da Agência
Brasil
Brasília - O Senado Federal aprovou hoje o projeto de Lei de
Biossegurança, que regulamenta o plantio, a comercialização e as
pesquisas com sementes transgênicas no país. Por 53 votos
favoráveis, dois contrários e três abstenções, a matéria seguiu
para uma nova votação na Câmara dos Deputados, porque recebeu
emendas no Senado. Pelo texto do relator da matéria, senador Ney
Suassuna (PMDB-PB), a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança
(CTNBio), responsável por liberar a venda de Organismos
Geneticamente Modificados (OGMs), vai deliberar em última
instância sobre as pesquisas com transgênicos.
A Lei de Biossegurança também autoriza a realização de pesquisas
com células-tronco para fins medicinais. O texto permite que
sejam utilizados para pesquisa embriões que estejam congelados
há mais de três anos em clinicas de fertilização. O projeto
veda, no entanto, a clonagem humana e a clonagem de
células-tronco embrionárias para utilização terapêutica. “Ficou
proibido qualquer tipo de manipulação genética para fins
reprodutivos. Isso está proibido, e as penas são pesadas. Mas
foi permitido o uso dos embriões congelados entre o terceiro e o
quarto ano – quando são jogados no lixo. E entre jogar no lixo e
salvar vidas, nós acreditamos que seja melhor fazer essa
autorização”, explicou Suassuna.
A principal mudança no texto originário da Câmara, foi a
inclusão, pelo relator Ney Suassuna, da autorização para as
pesquisas com células-tronco. “Hoje o Brasil avançou. Porque o
que veio proibido da Câmara de usar célula-tronco, aqui foi
permitido”, disse Suassuna.
Transgênicos
O senador Ney Suassuna manteve o texto aprovado nas Comissões
que permite a pesquisa, a produção e a comercialização de
sementes transgênicas em todo o país. Depois da aprovação da
proposta, a senadora Heloisa Helena (sem partido-AL) apresentou
em plenário emenda pedindo a proibição da pesquisa e
comercialização com sementes transgênicas estéreis – que não têm
capacidade de serem reproduzidas ou reutilizadas.
Suassuna acatou a emenda da senadora somente para a
comercialização das sementes. Mas ressaltou que, como essa
proibição já existe na lei que regulamenta a plantação de soja,
na prática não há qualquer mudança. “O projeto ficou exatamente
como estava no acordo. Não proibimos a pesquisa. Proibimos a
manipulação de sementes que tenham o "gene terminator"
(estéril), que não podem reproduzir. Não houve quebra de
acordo”, explicou Suassuna diante do protesto de senadores
contrários à emenda, como Osmar Dias (PDT-PR).
A líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), disse que o
governo vai avaliar com atenção a emenda e, se considerar que
ela é prejudicial à essência do projeto, vai pedir às lideranças
na Câmara que tentem derrubar a mudança. “Como o projeto vai
passar pela Câmara e o presidente Lula pode vetar, não há
problema”, afirmou.
O líder do Governo no Senado, Aloizio Mercadante, fez coro à
reivindicação de Salvatti. “Se essa emenda modificar o texto
acordado no Senado, vou pedir às lideranças na Câmara que
reavaliem. Emendas de última hora não ajudam a democracia”,
afirmou.
O texto de Suassuna atribui à CTNBio as competências para
decidir sobre as sementes transgênicas que poderão ser
produzidas no país. A Comissão, no entanto, vai ter que submeter
suas decisões ao Ibama e à Agência Nacional de Saúde (Anvisa).
“Pelo projeto do Senado, a CTNBio decide, mas o Ibama ou a
Anvisa podem contraditar a decisão. Se contraditou, vai para uma
instância de recursos, o Conselho de 11 ministros (Conselho
Nacional de Biossegurança), que vai pegar dois pareceres
técnicos, vai aprofundar a discussão para tomar a decisão do
Estado: produz ou não”, esclareceu o líder Aloizio Mercadante.
O Ibama e a Anvisa poderão, pelo projeto de Suassuna, entrar com
recursos para questionar as decisões da CTNBio no prazo de até
30 dias contados a partir da publicação do parecer técnico da
Comissão. O Conselho Nacional de Biossegurança vai ter 45 dias
para apreciar os recursos.
O texto aprovado também determina que produtos transgênicos
sejam identificados em seus rótulos para que o consumidor possa
ter claro conhecimento do que está comprando. As lavouras de
sementes transgênicas e naturais terão que ser separadas de
acordo com o projeto. |