Brazil
June 15, 2004
A ferrugem asiática
acaba de ser detectada por pesquisadores da Embrapa Amazônia
Oriental nos municípios de Ulianópolis, D. Eliseu e Paragominas
Embora a soja produzida no Pará
represente pouco mais de 1% do total nacional, ou seja, 1,1
milhão de tonelada, pesquisadores e produtores não escondem sua
preocupação com a confirmação de que a ferrugem asiática chegou
aos plantios paraenses. Oficialmente ela apareceu no nordeste do
Estado (municípios de Paragominas, D. Eliseu e Ulianópolis),
embora informações extra-oficiais dêem conta de sua ocorrência
no sudeste paraense, na safra do ano passado.
A identificação da doença foi feita no laboratório de
Fitopatologia da Embrapa
Amazônia Oriental (Belém, PA), a partir do material coletado
durante uma viagem de coleta e fiscalização realizada
conjuntamente por técnicos da Delegacia Federal de Agricultura
(DFA), da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará
(Adepará) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária,
vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento.
Os pesquisadores da Embrapa Ruth Linda Benchimol e Emeleocípio
de Andrade explicam que a soja tem sido atacada por mais de uma
centena de doenças, mas garantem que a ferrugem é a mais
perigosa de todas. Ruth Linda, que é fitopatologista, ressalta
que existem dois tipos de ferrugem causadas por fungos. A
conhecida por ferrugem americana é causada pelo Phakopsora
meibomiae e a ferrugem asiática causada pelo P. pachyrhyzi. A
diferença precisa entre os dois tipos de ferrugem só pode ser
feita através da análise do DNA.
Mas segundo a pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental,
sabe-se, porém, que a ferrugem americana raramente causa danos
econômicos e é um fungo que prefere temperaturas amenas, com
média abaixo de 25o C e umidade
relativa elevada, ocorrendo geralmente nas regiões de Cerrado,
com altitude superior a 800 m, ou seja, no Sul do país. Já a
ferrugem asiática é extremamente agressiva, se adapta a
temperaturas mais elevadas (até 30o C) e requer acima de 10
horas de molhamento da folha, por orvalho ou chuva. Exatamente o
que acontece nas regiões paraense
onde a soja está sendo plantada em grande escala.
Emeleocípio Botelho ao fazer uma retrospectiva sobre o
aparecimento da ferrugem no País, lembra que a primeira
constatação se deu no Estado do Paraná, em 2001 e chegou via
Paraguai. Os sojicultores paranaenses registraram perdas que
variaram de 30 a 75%. No ano seguinte, a doença já estava em
Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Rio Grande
do Sul. Em 2004 já foram contabilizados 244 municípios afetados.
E agora a mais temidas das doenças da soja chegam ao Pará.
Apenas o pólo de Santarém, no oeste do Estado, não registrou a
presença da ferrugem asiática. Um quadro fitopatológico que já
era presumível, segundo Ruth Linda. "Apesar da pesquisa indicar
para a produção de grãos, as áreas mais secas do Estado, o que
se tem em nossa região é uma situação bem diferente. "A
Amazônia, e no caso específico o Pará onde estão implantados os
cultivos de soja, tem uma temperatura anual elevada e uniforme e
excessivo teor de umidade relativa do ar, extremamente favorável
à incidência de doenças, principalmente as fúngicas.
A pesquisadora alerta que isso leva a atividade agrícola na
Amazônia a ter um risco bem maior que em outras regiões do País
e exemplifica com culturas de grande relevância econômica para o
Pará que têm seu crescimento limitado pela incidência de
doenças. É o caso do cupuaçu e cacau, atacados pela
vassoura-de-bruxa; a pimenta-do-reino pela fusariose; a
seringueira pelo mal-das-folhas e o dendê pelo amarelecimento
fatal. Agora chegou a vez da soja. |