Brazil
July 7, 2009
Pesquisadores da
Embrapa Algodão
participaram no último dia 26 de junho, em Catuti (MG), de um
dia-de-campo sobre o cultivo do algodão transgênico. O evento é
parte de um projeto chamado “Retomada da Cultura do Algodão no
Norte de Minas”, desenvolvido sob coordenação da Associação
Mineira dos Produtores de Algodão (AMIPA), com apoio da
Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa),
Emater-MG, Epamig, com financiamento do Banco do Nordeste e
Banco do Brasil.
“Trata-se de projeto de transferência de tecnologia e que atende
atualmente a 63 produtores que cultivam algodão em cerca de 300
hectares. O projeto tem como meta alcançar área produtiva de
1.000 hectares para o ano de 2010”, explica o pesquisador José
Ednilson Miranda.
Miranda diz que na região existe uma área piloto de cinco
hectares com algodão irrigado cultivada com algodão Bt Bollgard
I (cultivar Nu Opal), cuja produtividade estimada é de 320
arrobas de algodão em caroço por hectare. “Este cultivo teve a
semeadura efetuada no dia 17 de fevereiro e deverá ser colhido
na primeira quinzena de julho, totalizando um ciclo de 135 dias,
portanto, bastante precoce. Esta precocidade parece estar
associada ao clima semi-árido da região e à irrigação
complementar, o que possibilitou um adequado suprimento hídrico
para o bom desenvolvimento das plantas ”, detalha.
Ele observa que, em função do clima, não há problemas
fitossanitários relacionados a doenças. Mesmo a ramulária, à
qual a cultivar utilizada é altamente suscetível, não manifestou
incidência sobre a cultura. “O controle de pragas é minimizado
pelo uso da cultivar transgênica resistente a insetos Bollgard
I. Entretanto, ataques frequentes de Spodoptera frugiperda
forçam o produtor a efetuar entre quatro a seis aplicações de
inseticidas para contenção da população do inseto. Some-se a
estas duas ou três aplicações para controle de percevejos
migrantes de leguminosas e têm-se o total de seis a nove
pulverizações”, diz Miranda.
Segundo a Embrapa Algodão, o custo de produção desta área deve
ser em torno de R$ 3.000,00, pelos levantamentos junto aos
produtores, incluindo gastos com irrigação. “Supondo a
produtividade de 320 arrobas por hectare de algodão em caroço,
significando algo em torno de 120 arrobas de algodão em pluma
por hectare e com os preços praticados atualmente, de R$38,00 a
arroba de pluma, tem-se um rendimento bruto de R$4.560,00/ha. Se
acrescermos o valor de R$1.030,00 referente à venda do caroço
(quantidade de 2.400 kg com cotação de R$430,00 a tonelada),
tem-se o total de R$5.590,00/ha, ou seja, resultando num lucro
líquido de R$2.590,00 por hectare. O excelente rendimento denota
o potencial de produtividade deste sistema de produção”, avalia
o pesquisador.
Segundo a Embrapa, as demais áreas de algodão da região, com
algodão de sequeiro e menor adoção de insumos, está muito aquém
daquela produtividade e rendimento. Trata-se de áreas que
produzem entre 30 e 100 arrobas de algodão em caroço por
hectare, resultado de déficit hídrico durante o cultivo, bem
como carência de fertilização adequada e todo o manejo efetuado
na cultura. “Evidente que o custo de produção é mais baixo,
estimado em cerca de mil reais por hectare, entretanto o
resultado financeiro não é nada entusiasmador. Além disso, o
produtor é tão descapitalizado que depende totalmente do governo
para a obtenção do mínimo de insumos, incluindo a semente, para
poder plantar”, comenta Ednilson Miranda.
A Embrapa Algodão iniciou ações de colaboração com agricultores
familiares, visando ao desenvolvimento da cotonicultura do
algodão na região do Norte de Minas, através de trabalhos de
transferência de tecnologia e de pesquisas de suporte àquele
modelo de produção. Na parte de transferência de tecnologia já
está sendo avaliado pelo Better Cotton Iniciative (BCI), um
projeto que envolve ações de transferência de tecnologia para
agricultures familiares de Goiás, Paraíba e Minas Gerais, cuja
coordenação está sob a responsabilidade do analista Waltemilton
Cartaxo, pela Embrapa Algodão, e do técnico da Amipa, José
Tibúrcio de Carvalho.
“Demandas de pesquisa existem, tendo como um dos problemas
atuais a ocorrência de cochonilha como praga potencial, sendo
que o pesquisador Carlos Alberto Domingues da Silva já
desenvolve estudos sobre a praga em região próxima, no Vale do
Iuiu, que fica a cerca de 120 km de Catuti”, relata Miranda. Ele
ressalta que o impacto da tecnologia Bt (em breve Bt2) é outro
tema que merece a atenção da Embrapa.
O pesquisador diz que há uma real possibilidade de modificação
do status de pragas secundárias para primárias, em função do
nicho ecológico disponibilizado pelas pragas-alvo da transgenia.
“Isto é um problema que já ocorreu na China, em 2004, em
lavouras Bt, onde a não adoção de medidas de refúgio, por
exemplo, está permitindo a determinadas espécies elevarem sua
densidade populacional ao ponto de causar danos econômicos nas
lavouras transgênicas”, informa o especialista.
“Evidente que a transgenia é uma ferramenta importante na
redução do número de pulverizações, o que diminui o custo de
produção e a contaminação ambiental com inseticidas, entretanto
seu uso deve ser monitorado a fim de se evitar outras formas de
desequilíbrio de populações de insetos”, diz o entomologista da
Embrapa Algodão.
O dia-de-campo contou com a presença de várias autoridades,
entre elas o deputado federal Márcio Reinaldo, o prefeito de
Catuti, Hélio Pinheiro da Cruz, representantes do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastacimento, Emater, Epamig, Banco do
Brasil, Banco do Nordeste etc. |
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