Brazil
October 28, 2008
Joseani M. Antunes,
Embrapa Trigo
Não, caro leitor, infelizmente ainda não estamos exportando
trigo, ao menos não como excedente de produção, já que o Brasil
ainda é o maior importador mundial deste cereal. O que a Embrapa
Trigo mais exportou neste mês de outubro foi o conhecimento
sobre a cultura do trigo. Foram aprendizes de Moçambique,
Paraguai, França e Tunísia. Com a campanha global para acabar
com a fome no mundo promovida pela FAO – Organização das Nações
Unidas para Agricultura e Alimentação - o trigo volta a assumir
o papel de alimento barato e nutritivo nas populações mais
carentes. É o caso da África, onde culturas como trigo, arroz e
milho passam a ganhar incentivos governamentais para o fomento
nas comunidades agrícolas.
Em Moçambique, onde o Presidente Lula acaba de assinar acordos
de cooperação técnica para produção de alimentos, o país passou
de 100% importador para uma área de três mil hectares de trigo
em 2008, ainda muito distante dos 11.500 hectares sonhados no
Plano Nacional do Trigo de Moçambique, que pretende expandir a
área em apenas três anos. Falta de sementes e, principalmente,
maior conhecimento de campo limitam as expectativas do Governo
Guebuza, num processo de recente saída do regime socialista que
até hoje impõe o uso coletivo das terras agrícolas. Trinta dias
foi o tempo de treinamento de seis técnicos do Ministério da
Agricultura de Moçambique para absorver o conhecimento que a
Embrapa Trigo aprimorou em mais de três décadas de pesquisa e
transferência. Conciliar os interesses quando aspectos técnicos
se misturam aos aspectos políticos é o maior desafio para o
grupo de Moçambicanos que leva do Brasil a lição da organização
na cadeia produtiva de uma das mais importantes commodities
mundiais.
Aumentar a área cultivada com trigo no Paraguai é o motivo da
visita de dois pesquisadores da Dirección de Investigación
Agrícola (DIA), que dedicam a semana para trocar experiências na
produção de sementes. O Paraguai é o terceiro maior produtor de
trigo no Mercosul, logo atrás da Argentina e do Brasil. Já o
pesquisador da França, país onde o rendimento médio por hectare
é quatro vezes maior que o nosso, vem ao Brasil pela simples
curiosidade de acompanhar nosso crescimento com a soma da
biotecnologia e das pesquisas em campo.
Vencer as adversidades do ambiente para produzir um cereal do
frio num país tropical úmido é o que mais chama a atenção dos
pesquisadores que visitam as lavouras brasileiras. Dois países
disputam a corrida pelo trigo resistente à seca: Brasil e
Austrália, potenciais candidatos tanto pelas exigências do
clima, quanto pela qualidade técnica dos seus quadros de
pesquisa.
Vitrine para o mundo, mas janela para o produtor. Enquanto os
estrangeiros copiam nossos exemplos bem sucedidos, o triticultor
acompanha o mercado lá fora com muita apreensão. Depender dos
preços do mercado internacional para vender a produção é ironia
num país que importa 70% do trigo que consome. Mas isso é outra
história... Primeiro vamos tentar colher os “louros” nesta safra
que promete ser uma das melhores “pra gringo ver”. Isso se o
clima deixar. |
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