Brazil
November 20, 2008
Mesmo com a crise econômica que
tem preocupado os mercados financeiros pelo mundo afora, a
agropecuária deve continuar apresentando boas oportunidades de
crescimento nos próximos anos, uma vez que a demanda por
alimentos e biocombustíveis seguirá em alta. A opinião é do
diretor executivo da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Geraldo
Eugênio de França, respaldada pelo presidente do Conselho
Administrativo e diretor executivo da
Monsanto, Hugh Grant.
Os dois participaram na quinta-feira (20), em Brasília, de uma
solenidade que marcou o repasse de R$ 7,8 milhões da Monsanto
para o fundo de pesquisa da Embrapa. Os recursos são
provenientes do compartilhamento dos direitos de propriedade
intelectual, a título de royalties, sobre a comercialização de
variedades de soja da Empresa com a tecnologia Roundup Ready®,
da Monsanto, na safra 2007/08. Também participou do evento a
diretora executiva da Embrapa Tatiana Deane de Sá.
No caso específico da soja, segundo Grant, a perspectiva é de
crescimento, ao contrário do que ocorre em alguns mercados, como
o automotivo, que estão se retraindo devido ao quadro de
recessão nos países desenvolvidos. “A estimativa é que de 2009 a
2017 haja um crescimento de cerca de 40% na produção mundial de
soja, e o Brasil terá um papel muito importante nessa
trajetória”, afirmou o CEO da Monsanto, destacando que a China
deve responder por 80% desses 40% projetados.
Cana-de-açúcar
Outro segmento que oferece a possibilidade de excelentes
resultados a longo prazo, segundo Grant, é o sucroalcooleiro, no
qual a Monsanto ingressou recentemente no Brasil. “Atualmente
investimos em milho, algodão, soja, hortaliças e agora
ingressamos no setor sucroalcooleiro. Acreditamos que a
cana-de-açúcar representa uma grande oportunidade internacional,
pois o mundo se deu conta da importância dos biocombustíveis, o
que não é mais nenhuma novidade para os brasileiros”, comentou.
De acordo com Grant, a Monsanto investe cerca de U$ 3 bilhões
por dia em pesquisa agrícola, visando um horizonte de cinco a 10
anos para começar a colher resultados. “Nessa visão de longo
prazo, a projeção é que os combustíveis fósseis tendem a ficar
mais caros e, por isso, as empresas que avançarem em
biocombustíveis terão excelentes oportunidades”, disse ele,
citando o exemplo dos Estados Unidos, onde são consumidos 140
bilhões de galões de gasolina por ano. “A meta mesclar 10% de
etanol em todo esse combustível, o que representa nada menos que
14 bilhões de galões, sem dúvida um grande negócio”, explicou.
Questionado sobre o fechamento de usinas no Brasil em função da
crise econômica, o diretor executivo da Embrapa Geraldo Eugênio
disse que o setor sucroalcooleiro iniciou suas atividades no
País ainda no século XVI, e sempre alternou momentos de
dificuldades e bonança. “Mas a crise hoje é de intensidade menor
que as anteriores, isso porque atualmente temos uma frota de 50
milhões de veículos no Brasil, sendo que 50% deles rodam com
álcool. Além disso, é preciso ter em mente que cedo ou tarde o
petróleo acabará, já que a velocidade de consumo é muito
superior à capacidade de o planeta produzir mais matéria-prima”,
ressaltou.
Mas além dos desafios econômicos, Eugênio e Grant lembraram que
a agropecuária mundial terá de se preparar para enfrentar também
os desafios ambientais impostos pelas mudanças climáticas e a
escassez de recursos naturais. “O grande desafio que se
apresenta ao Brasil e ao mundo é aumentar a produção sem
aumentar a área plantada, produzir mais e consumir menos
recursos, sem desmatar mais nenhuma árvore sequer”, afirmou o
CEO da Monsanto.
Na opinião dele, também será preciso produzir alimentos mais
nutritivos a preços baixos, além de enfrentar a questão da água,
uma vez que a agricultura é responsável por 70% do consumo
planetário. “O dilema de produzir mais consumindo menos água tem
ocupado nossas atenções, por isso estamos trabalhando para
desenvolver cultivares resistentes ao estresse hídrico”,
informou Grant.
Parceria
Na solenidade de assinatura dos contratos e de entrega do
cheque, Hugh Grant enfatizou a importância das redes de pesquisa
na agricultura. Agradeceu e elogiou a parceria com a Embrapa,
lembrando os desafios ao setor agrícola para os próximos anos.
“Hoje celebramos também acordos futuros”, afirmou.
O diretor da Embrapa Geraldo Eugênio traduziu a solenidade como
um momento histórico em um país que decidiu apostar em
tecnologia para agricultura e energia. “Para continuarmos sendo
produtivos, é preciso estarmos nos associando com pequenos
produtores e também com empresas como a Monsanto, instalada há
anos no Brasil”, concluiu.
Os R$ 7,8 milhões oriundos do compartilhamento dos direitos de
propriedade intelectual da soja com a tecnologia Roundup Ready®
serão aplicados em mais de 10 projetos da Embrapa, com destaque
para três iniciativas:
- Identificação,
caracterização e incorporação de genes para resistência
durável à brusone em arroz cultivado no Brasil, que recebeu
mais de R$ 1 milhão;
- Biofortificação:
desenvolvimento por meio da biotecnologia de alimentos mais
nutritivos, com adição de ferro e vitaminas;
- O Huanglongbing
(ex-greening) dos citros, que desenvolverá abordagens
biotecnológicas de manejo para combater uma doença
devastadora que praticamente acabou com a citricultura
chinesa e sul-africana e chegou ao Brasil alarmando os
nossos cientistas.
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