Brasilia, Barsil
January 8, 2008
Governantes, produtores,
consumidores e cientistas precisam conjugar esforços para evitar
a entrada de pragas no Brasil.
O comércio internacional vem crescendo significativamente nas
últimas décadas. De acordo com dados do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), as
exportações brasileiras apresentaram em 2007 um crescimento de
16,6% em relação a 2006. O agronegócio é responsável por 93% da
balança comercial brasileira, ou seja, sozinho, registrou saldo
de US$ 42,726 bilhões, com crescimento de 13,04% sobre o
superávit (saldo positivo) do agronegócio em 2005.
A agricultura estará no centro das negociações internacionais e
é parte essencial da economia de todos os países, incluindo as
duas maiores potências mundiais, Estados Unidos e Japão.
Mas, se por um lado o crescimento dos setores de agricultura e
alimentação depende de uma maior liberalização do comércio, por
outro o incremento do comércio internacional possibilita o
movimento de inimigos, quase sempre minúsculos, como insetos e
microrganismos (bactérias, vírus, fungos, nematóides e ácaros),
mas que podem causar danos irreversíveis a nossa agricultura,
pecuária e florestas. Exemplo recente disso é a ferrugem da
soja, que entrou no Brasil em 2001 e já causou perdas superiores
a US$ 2 bilhões na safra de 2003.
Preocupados com esse estranho fenômeno, ao qual chamam de
“bioglobalização”, ou seja, o deslocamento intencional ou não de
organismos vivos entre países e mesmo entre diferentes regiões
de um mesmo país, cientistas brasileiros da
Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária - Embrapa, do Instituto Agronômico de Campinas
(IAC) e de outras instituições nacionais desenvolvem
sistematicamente ações de quarentena vegetal para evitar a
entrada de pragas no país.
Essas ações se baseiam na análise das plantas introduzidas no
país para fins de pesquisa em laboratórios para verificar se
estão contaminadas por insetos ou microrganismos que possam
comprometer a agricultura brasileira. Quando a praga detectada é
passível de erradicação, o material é tratado, mas quando a
praga é exótica, ou seja, não ainda não ocorre no Brasil, as
amostras vegetais são incineradas.
Pragas “barradas” poderiam ter prejudicado agricultura
Algumas das pragas interceptadas pelas equipes de quarentena
vegetal poderiam ter resultado em danos severos para as nossas
culturas agrícolas. Entre essas, destaca-se o vírus denominado
Banana bunch top virus, detectado em um material oriundo da Ásia
no final da década de 90.
Esse vírus nunca havia sido registrado na América do Sul e nem
na América Central e não existem variedades de banana
resistentes a ele, portanto, a sua entrada poderia devastar a
bananicultura brasileira, que é a quarta cultura agrícola mais
importante do planeta, atrás apenas do arroz, do trigo e do
milho. Além disso, tem ainda enorme importância social, pois é
uma fonte barata de energia, minerais e vitaminas. O Brasil é o
segundo maior produtor mundial de banana, com uma produção de
6,47 milhões de toneladas por ano - mais de 9% da produção
mundial. A fruta é a mais consumida no país - junto com a
laranja - e fundamental para a complementação da dieta alimentar
das populações de baixa renda. Prova disso é 99% da produção
nacional é destinada ao mercado interno. A área plantada alcança
mais de 500 mil hectares.
Outras inúmeras pragas exóticas poderiam ser citadas, como o
fungo Tilletia indica, que ataca a cultura do trigo, detectado
pelos pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia, unidade da Embrapa localizada em Brasília, em
plantas oriundas do México e do Uruguai. Ao contaminar a cultura
do trigo, esse fungo impregna as plantas com um odor
desagradável, similar ao de peixe, tornando-as imprestáveis ao
consumo humano, podendo ser usadas apenas para fabricação de
ração animal.
Várias pragas de oliveira foram também interceptadas pela equipe
de quarentena da Unidade, como o ácaro Oxycenus maxwelli
(Eriophyidae) e os fungos: Coniothyrum oleae, Cycoclonium
oleaginum e Phyllosticta panizzei, Cercospora cladosporioides.
Essa cultura ainda é incipiente, mas bastante promissora para o
Brasil, especialmente nas regiões sul e nordeste do país
(Petrolina, PE).
Recentemente, três novas espécies de ácaros, nunca antes
descritas na literatura científica mundial, foram identificadas
pela equipe de pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologias em plantas ornamentais em viveiros no Distrito
Federal. As três espécies são da família Eriophyidae e pertencem
aos gêneros: Acaricalus, encontrado em Ipomoea purpúrea, uma
planta conhecida popularmente como campainha, corriola ou
bom-dia; Aculops, detectado em flamboyant (Delonix regia); e
Porcupinotus, coletado em uma planta nativa da região central do
Brasil: Avarema cochliacarpos, cujo nome popular é casca-basão.
Conscientização da população: fundamental para preservar a
agricultura
A conscientização da população brasileira para a importância da
segurança biológica é fundamental para proteger a agricultura e
a economia brasileira dos ataques dessas pragas.
Produtores, processadores, consumidores e ambientalistas
precisam se unir para buscar maneiras de se proteger e se
aprofundar nos assuntos de intercâmbio comercial, na cadeia
alimentar e na sustentabilidade agropecuária e ambiental.
“Prevenir danos ambientais é muito mais barato do que tentar
recuperá-los mais tarde, especialmente porque na maioria das
vezes são irrecuperáveis”, alerta a pesquisadora da Embrapa
Recursos Genéticos e Biotecnologia, Maria Regina Vilarinho.
Para o pesquisador da área de floricultura do IAC e presidente
da Sociedade Brasileira de Floricultura e Plantas Ornamentais -
SBFPO, Antônio Fernando Caetano Tombolato, a defesa vegetal é
essencial em um país de dimensão continental como o Brasil,
especialmente por ser grande exportador de produtos agrícolas.
Os impactos econômicos causados pela entrada da ferrugem da
soja, entre outras pragas, despertaram a atenção do governo e de
diversos segmentos acadêmicos. Mas barreiras fitossanitárias e
ações de fiscalização não são suficientes para “barrar” a
entradas desses inimigos indesejáveis em nosso país. É
fundamental que a população brasileira esteja atenta e
consciente acerca dos perigos da introdução desses organismos no
país.
É importante lembrar que uma inocente plantinha trazida como
souvenir de uma viagem pode ser a porta de entrada de uma praga
devastadora em nossa economia.
Fernanda Diniz
Jornalista, Embrapa
Recursos Genéticos e Biotecnologia |
|