Brazil
April 23, 2007
A mancha-angular, uma das
principais doenças que atacam a lavoura de feijão , pode ser
controlada de maneira simples e econômica pelo produtor .
Experimentos conduzidos pela
Embrapa Cerrados (Planaltina – DF) com as cultivares de
feijão carioca Pérola e preto BRS Valente comprovam a eficácia
do uso das caldas sulfocácia e bordalesa para o controle da
mancha-angular.
O estudo , conduzido pelo pesquisador Wellington Pereira de
Carvalho , da Embrapa Cerrados , Unidade da Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, vinculada ao Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento, teve início em 2004 na
Fazenda Moça Terra de produtos orgânicos . “As caldas feitas
pelo próprio produtor com produtos baratos e fáceis de serem
encontrados são ferramentas úteis para quem quer cultivar feijão
orgânico , pois são permitidas pelas certificadoras”, salienta
Carvalho.
Nas experiências , foram avaliadas quatro tipos de caldas :
calda bordalesa, calda sulfocálcica, calda elaborada com
silicato e calda elaborada com gesso agrícola , nos regimes de
feijão irrigado e feijão das águas . As caldas bordalesa e
sulfocácia conseguiram melhores resultados no controle da doença
.
As caldas elaboradas com silicato e com gesso agrícola não
apresentaram diferença da testemunha , parcela do experimento
sem uso de nenhum tipo de calda . A cultivar Pérola , tratada
com calda bordalesa, apresentou um rendimento de 3656 kg /ha. O
mesmo feijão , tratado com calda sulfocálcica, teve um
rendimento de 3573 kg /ha. A testemunha produziu 3102 kg /ha.
Quando se fez o cálculo do custo da aplicação das caldas , do
lucro que cada uma proporcionou e do aumento no rendimento ,
observou-se que o lucro propiciado pelo uso da calda
sulfocálcica atingiu R$958,37/ha e a lucratividade da calda
bordalesa foi de R$743,85/ha.
Já a cultivar BRS Valente , considerada mais resistente à
mancha-angular, não apresentou diferença entre os diversos tipos
de caldas aplicadas e a testemunha . Segundo Carvalho , a
Valente apresentou a chamada diluição do efeito das caldas em
função de sua resistência . “ Apesar disso, quando calculado o
custo da aplicação durante o ciclo da cultura e o respectivo
lucro que cada calda proporcionou ( lucro bruto marginal ),
constatou-se que a calda sulfocálcica propiciou um lucro de
R$641,86 em relação à testemunha ”, complementa.
O experimento conduzido com feijão irrigado, na época de inverno
, época de menor incidência da doença , indicou que , para a
cultivar Pérola , a calda bordalesa apresentou melhor controle
da doença , proporcionando um rendimento de 3370 kg /ha, 17,7%
superior à testemunha , que teve rendimento de 2864 kg /ha. Com
esse rendimento , o lucro obtido com a aplicação desse tipo de
calda foi de R$386,40/ha. Para a cultivar BRS Valente , a calda
bordalesa proporcionou um rendimento de 2772 kg /ha, 25%
superior à testemunha , e a calda sulfocálcica proporcionou um
rendimento de 2701 kg /ha, 21,8% superior à testemunha , que
teve rendimento de 2218 kg /ha. Com esses rendimentos , o lucro
bruto obtido com a aplicação das caldas nessa cultivar foi de R$
573,15/ha para a calda bordalesa e R$ 464,10/ha para a calda
sulfocálcica.
O pesquisador da Embrapa Cerrados explica que , normalmente ,
quando conduzidas em sistema orgânico , as plantas são menos
atacadas por doenças . “As condições de manejo do sistema
orgânico , como a rotação de culturas , adubação equilibrada,
criação de faixas em nível com barreiras vegetais altas que ,
além de proteger contra erosão , vento e agrotóxico de
propriedades vizinhas, separa o feijoeiro de outras culturas ,
dificulta a disseminação de doenças ”, salienta.
Além do manejo diferenciado, as plantas , em sistema orgânico ,
são menos estressadas por não se fazer uso de fungicidas ,
inseticidas , herbicidas e adubos químicos . “ Quando ocorre um
desequilíbrio no desenvolvimento da planta , provocado pelo uso
de produtos químicos , há um acúmulo de substâncias mais simples
que são fonte de alimento para os parasitas tais como açúcares e
aminoácidos . Em plantas equilibradas, os aminoácidos se unem
formando proteínas , e os açúcares formam celulose e outras
substâncias que não servem de alimento aos parasitas , e assim
forma-se a defesa natural das plantas ”, explica.
Em estudo anterior , avaliando o sistema radicular de feijoeiros
, Carvalho constatou que 75% dos pés de feijão carioca e 70% de
feijão preto estavam contaminados com os fungos Fusário e
Rizoctonia, que causam podridão radicular, mas as plantas não
apresentavam sintomas da doença , produzindo normalmente sem uso
produtos para seu controle , devido a resistência da própria
planta . “ Já com a mancha-angular, por ser fungo mais agressivo
e que ataca as folhas , mesmo plantas equilibradas e com maior
resistência , apresentam queda de produção devido ao seu ataque
”, destaca.
O pesquisador enfatiza ainda que as plantas cultivadas em
sistemas orgânicos tendem a apresentam maior resistência ao
ataque de pragas e doenças , porém problemas fitossanitários
mais persistentes , como é o caso da mancha-angular, necessitam
de tratamento para viabilizar produções satisfatórias com
qualidade comercial .
Fácil aplicação
A calda bordalesa é conhecida desde o final do século XIX. É uma
mistura de sulfato de cobre , cal virgem e água , simples de ser
feita e de custo baixo . Já a calda sulfocálcica é um pouco mais
trabalhosa na sua confecção , pois necessita de fervura no
processo , mas , por ser uma mistura de enxofre em pó , cal
virgem e água , também apresenta baixo custo . As caldas são
fáceis de ser aplicadas podendo-se utilizar pulverizador costal
manual , desde que seguidos os cuidados prescritos para o seu
manuseio . Segundo Carvalho , além do controle que exercem sobre
os fungos , as caldas também fornecem macro e micronutrientes às
plantas , ativando o processo enzimático e estimulando a
proteossíntese, o que explica o comportamento da cultivar BRS
Valente , que , mesmo sendo resistente à doença , quando tratada
com as caldas teve produção superior à testemunha . |
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