Brazil
April 9, 2007
As
abóboras (C. moschata), morangas (C. maxima) e abobrinhas (C.
pepo), espécies do gênero Cucurbita, da família Cucurbitaceae,
são nativas das Américas e faziam parte da alimentação da
civilização Olmeca, depois incorporadas pelas civilizações
Asteca, Inca e Maia. Registros arqueológicos associam essas
espécies ao homem há cerca de 10.000 anos.
Várias espécies cultivadas e silvestres são fundamentais em
muitos aspectos da vida e da dieta humana, tanto pela
versatilidade culinária quanto pela riqueza em carotenos e
vitaminas. As fibras também contêm bioflavonóides, bloqueadores
dos receptores de hormônios estimulantes do câncer, e esteróis
que são transformados em vitamina D no organismo, estimulando a
diferenciação celular.
A diversidade genética de Cucurbita existente nas Américas é
ampla e os vegetais são encontrados em variadas cores, texturas,
formas, tamanhos e sabores. No Brasil, espécies do gênero
Cucurbita faziam parte da alimentação dos povos indígenas antes
da sua colonização. A diversidade dessas espécies no Brasil é
representada pelas inúmeras variedades tradicionais cultivadas
pelos indígenas, quilombolas e agricultores de base familiar.
Tais fatos reforçam a importância dos recursos genéticos do
gênero Cucurbita para a agricultura e para a segurança
alimentar.
Diante do risco de erosão genética (perda das variedades
tradicionais), faz-se necessário definir e priorizar novas áreas
de coleta e estratégias de conservação e uso da diversidade
genética existente no Brasil, delineando um panorama abrangente
e atual sobre as áreas de ocorrência dessas espécies e reunindo
informações sobre as coleções conservadas fora de suas
comunidades naturais (ex situ) ou nas condições de conservação
existentes na agricultura tradicional (on farm).
O projeto “Diagnóstico participativo sobre a distribuição
geográfica, condições de conservação e diversidade genética de
Cucurbita spp.” teve como objetivos mapear a distribuição
geográfica das variedades locais, possibilitando determinar as
áreas prioritárias para a realização de novas coletas de
germoplasma; diagnosticar e avaliar as condições de conservação
on farm e ex situ das variedades locais; propor medidas efetivas
de coleta de germoplasma em áreas ainda não contempladas, para
resguardar a diversidade genética existente no país; recomendar
estratégias de conservação on farm e ex situ da diversidade
genética existente, como forma de minimizar os riscos de erosão
genética; indicar mecanismos para ampliar o uso da variabilidade
genética em programas de pré-melhoramento e melhoramento,
inclusive pelas comunidades indígenas e pela agricultura
familiar.
O projeto teve a participação de seis Unidades da Embrapa:
Recursos Genéticos e
Biotecnologia (Brasília, DF), Agroindústria Tropical
(Fortaleza, CE), Clima Temperado (Pelotas, RS), Hortaliças
(Brasília, DF), Meio-Norte (Teresina, PI) e Semi-Árido
(Petrolina, PE) e das seguintes instituições: Instituto
Agronômico de Campinas (IAC), Instituto Capixaba de Pesquisa,
Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER), Universidade
Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal de Viçosa (UFV),
Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Universidade Estadual de
Feira de Santana (UEFS) e Universidade Estadual do Maranhão
(UEMA). O suporte financeiro foi do Ministério do Meio Ambiente,
MMA/Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da
Diversidade Biológica Brasileira (PROBIO) e do CNPq.
Com o desenvolvimento do projeto foi verificado que nos
herbários brasileiros são mantidas 41 exsicatas de Cucurbita,
sendo duas de C. maxima, 11 de C. moschata, 18 de C. pepo e 20
de outras espécies ou de espécies não identificadas. Pela
análise dos locais de coleta das exsicatas, verificou-se que
espécies de Cucurbita ocorrem em todas as regiões brasileiras.
Em termos de conservação ex situ, foi possível avaliar que nos
bancos de germoplasma brasileiros são conservados 1.198 acessos,
ou amostras, de C. maxima e 2.316 de C. moschata. Outras
espécies cultivadas estão pouco representadas como C. pepo e C.
ficifolia. É fundamental que outras espécies silvestres de
interesse sejam introduzidas e conservadas nesses bancos, como
fonte de resistência a fatores abióticos (seca, acidez no solo,
etc) e bióticos (doenças e pragas).
Outra conclusão importante lista os locais que devem ser
priorizados para a coleta de germoplasma, de modo que a
variabilidade genética existente no Brasil esteja, de fato,
representada nas coleções ex situ. Foram definidas como áreas
prioritárias todos os Estados das regiões Norte e Sul; no
Centro-Oeste, o Mato Grosso do Sul e Mato Grosso; e no Sudeste
todos os Estados, exceto Minas Gerais. Também foram considerados
prioritários os Estados de Alagoas, Maranhão, Paraíba,
Pernambuco, Piauí e Sergipe, na região Nordeste.
Quanto à conservação on farm, verificou-se que a espécie mais
cultivada pela maioria dos agricultores é a C. moschata
(variedades locais, conservadas há décadas, repassadas por
parentes, amigos e vizinhos). Os produtores geralmente fazem a
seleção de suas próprias sementes. Há uma tradição de manter as
sementes misturadas, tanto de variedades diferentes quanto de
outras cucurbitáceas, junto com cinza ou areia. A maioria planta
para o consumo da própria família, vendendo os excedentes em
feiras livres, mercados e barracas nas margens de estradas.
Diagnosticou-se também que há uma grande variabilidade de
padrões de fruto, quer em termos de tamanho, de formato, de
frutos com “pescoço”, da textura e cor da casca e da polpa.
Outra conclusão foi a ameaça de extinção a que estão sujeitas
algumas variedades locais ou tradicionais. Para evitar essa
erosão genética é fundamental realizar a coleta de germoplasma
para conservação ex situ, em condições apropriadas. Outra
estratégia seria a conservação e o uso sustentável da
variabilidade genética, promovendo o desenvolvimento de
pesquisas participativas junto aos produtores, orientando-os e
capacitando-os na conservação das sementes, no sistema de
produção e na agregação de valor aos seus produtos. Pode-se
também, incluir atividades de melhoramento participativo, de
forma a orientar o produtor rural sobre as formas de selecionar
o material ao longo das gerações.
Maria Aldete J. da Fonseca Ferreira
Pesquisadora da Embrapa
Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília, DF);
Engenheira agrônoma pela UNEB e Doutora em Genética e
Melhoramento de Plantas pela ESALQ/USP. |
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