Brazil
November 1, 2006
As sementes sagradas
“Quando Nhanderu colocou o índio na terra, já colocou plantas
para sobreviver... Um dia, um índio encontrou um lugar bem
grande, um aberto na mata... o índio foi lá no lugar que ele
tocou fogo e encontrou os milhos nascendo. Nasceu também
melancia, nasceu abóbora, nasceu um monte de coisa. Foi Nhanderu
tupã que tinha derramado para ele. Eram as plantas sagradas. Aí
o índio começou a guardar e gerou outras plantas, e essas nunca
podem se perder”.
Essa lenda, contada pelo índio Kuaray Mirim, da aldeia Ribeirão
Silveira, no Estado do Paraná, revela o carinho que os índios da
etnia Guarani devotam às suas sementes tradicionais.
Considera-as “plantas sagradas”. Mas a modernidade fez com que
perdessem parte do seu tesouro sagrado.
Coube mais uma vez à Empresa
Brasileira de Pesquisa agropecuária, Embrapa, vinculada ao
Ministério da Agricultura, coletar, guardar e devolver esse
patrimônio aos Guarani, a exemplo do que ocorrera com os Krahô,
do Tocantins, que reencontraram seu milho tradicional nas
câmaras frias da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia na
década de 90.
Nos dias sete e oito de novembro, cinco membros da comunidade
indígena Mbya Guarany, da ilha de Cotinga, município de
Paranaguá, Paraná, visitarão três Unidades da Embrapa em
Brasília: Recursos Genéticos e Biotecnologia, Hortaliças e
Cerrados, acompanhadas do pesquisador da Embrapa Florestas,
Antônio Carlos Medeiros, que desenvolve o projeto “Implantação
de tecnologias em sistemas agroflorestais e revitalização
cultural em terras indígenas no Paraná”.
Sementes de Abóbora, moranga, batata-doce, mandioca, inhame,
pimentas, hortaliças e sorgo sacarino estão entre as espécies
identificadas por Medeiros, como de interesse do grupo de
indígenas, já que estão ligadas à sua cultura. Além disso, eles
conhecerão o sistema de conservação de sementes a longo prazo e
tecnologias ligadas ao cultivo e manejo dessas plantas.
Depois de uma longa viagem de sua aldeia até Brasília,
alternando barco, ônibus e avião, os Guarani serão colocados
frente aos modernos métodos científicos de conservação e
produção. E descobrirão também que a Embrapa pode ser uma forte
parceira na preservação da sua cultura e na alimentação do seu
povo. |