Rio de Janeiro, Brazil
May 4, 2006Adriana
Brendler, Agência Brasil
O Brasil deve ter até outubro um centro de depósito de material
biológico que pode facilitar a produção de conhecimento na área
de biotecnologia. Representantes do Instituto Nacional de
Propriedade Industrial (INPI) e do Instituto Nacional de
Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro)
assinaram hoje um protocolo para a criação do Centro
Brasileiro de Material Biológico.
O centro, que deve ser instalado na unidade do Inmetro no
município fluminense de Xerém, vai receber o depósito de
material biológico envolvido em processos de patentes na área de
biotecnologia.
Hoje não há nenhum centro de depósito deste tipo de material na
América Latina. Os pesquisadores brasileiros que querem
registrar e proteger suas descobertas na área precisam depositar
os organismos vivos, provas da geração de conhecimento em
centros de países desenvolvidos.
Para Beatriz Amorim, diretora de Articulação e Informação
Tecnológica do INPI, a criação do centro é "importantíssima" já
que "o Brasil é um produtor significativo de conhecimento na
área de biotecnologia e o pessoal capacitado que está produzindo
conhecimento de ponta precisa de um espaço como o centro para
poder proteger os conhecimentos que já gerou".
Ela citou como o exemplo o seqüenciamento genético da bactéria
causadora da praga do amarelinho em vegetais, que foi realizado
por pesquisadores brasileiros, "notícia em todo o mundo, mas
patenteado no exterior".
Apesar da grande produção de conhecimento na área de
biotecnologia no país, o INPI não teve até agora nenhum pedido
de registro de patente nesta área. O vice-presidente do INPI,
Jorge Ávila, afirmou que "o centro é uma infra–estrutura
fundamental para que se possa desenvolver patentes em
biotecnologia."
Ele explicou que algumas patentes requerem que seja depositado o
material vivo, biológico, junto com o documento de patente: "Não
basta o papel, nele não é possível descrever completamente o que
se quer patentear".
Segundo Ávila, o envio do material biológico ao exterior, além
de ser um processo muito caro, mantém a informação tecnológica
distante, dificultando o acesso de outros pesquisadores
brasileiros, que poderiam se beneficiar com a descoberta depois
de ultrapassado o período de sigilo – cerca de um ano e meio.
A criação do Centro Brasileiro de Material Biológico depende da
celebração de um convênio entre Inmetro e INPI que formalize o
repasse dos recursos que, em grande parte, já estão previstos no
orçamento dos dois órgãos.
O protocolo assinado hoje dá andamento aos estudos sobre a
definição da estrutura física e do pessoal necessário para
atender às normas de segurança necessárias para o funcionamento
do Centro. O INPI já firmou convênios com a Fundação Osvaldo
Cruz (Fiocruz) e Universidade de Campinas (Unicamp) para
capacitação de técnicos do órgão que vão trabalhar com as
patentes de biotecnologia.
Além do apoio para o processamento de pedidos de patentes, o
centro também vai permitir que o Inmetro passe a operar na
certificação de produtos na área biológica. O órgão ainda não
oferece este tipo de serviço e com a criação do centro poderá
verificar padrões internacionais de produtos biológicos. Além
disso, o centro também irá abrigar coleções de seqüenciamento
genético que já existem em instituições como a Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Unicamp, a
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Fiocruz.
As patentes em biotecnologia são aquelas que contemplam
processos de produção baseados em materiais biológicos, tais
como microorganismos, produtos resultantes, materiais biológicos
e os próprios microorganismos desde que sejam transgênicos
(organismos geneticamente modificados). |