A Soja Transgênica veio para ficar
e o produtor brasileiro precisa acompanhar a inovação
tecnológica se quiser ser competitivo internacionalmente
Existe no país uma resistência
política e ideológica à adoção de novas tecnologias. Esta é a
opinião do Presidente da Cooperativa Central. de Pesquisa
Agrícola - Coodetec, Ivo Carraro, durante sua palestra no Painel
que discutiu a soja geneticamente modificada tolerante a
herbicidas, no IV Congresso Brasileiro de Soja, realizado em
Londrina. Esta oposição pode representar um atraso científico em
relação a outros países, alertou Ivo.
Outro grande estrago provocado pela demora na liberação de
pesquisas científicas está na pirataria, que está levando a
indústria de sementes do país à falência. Ivo Carraro lembrou
que a proibição do plantio de soja transgênica levou o produtor
brasileiro, principalmente no Rio Grande do Sul, a contrabandear
sementes da Argentina, conhecidas como “sementes Maradona”. O
presidente da Coodetec chegou a citar uma propaganda enganosa
divulgada entre os produtores gaúchos que mostrava uma soja que
produzia 8 grãos por vargem. Segundo Carraro, na época, muita
gente acreditou neste absurdo e a indústria de sementes do Rio
Grande do Sul foi ao colapso.
A Coodetec apresentou uma projeção para a próxima safra de soja
no Brasil: 60% da lavoura deve ser constituída por sementes
transgênicas. “Por isso é preciso olhar para o futuro e perceber
que o atraso na adoção de novas tecnologias leva à ilegalidade,
que por sua vez reduz os investimentos em pesquisas e,
conseqüentemente, provoca a diminuição da competitividade do
Brasil no mercado internacional”, salientou Ivo Carraro.
“A unanimidade é burra”, a frase é Alvir Jacob, Chefe de Setor
de Fiscalização de Comércio de Agrotóxicos da Secretaria de
Agricultura do Paraná (SEAB), sobre as críticas que o governo do
Paraná vem sofrendo por limitar o transporte e a comercialização
da soja transgênica no estado. Ele e Marcelo Silva, Chefe de
Fiscalização de Organismos Geneticamente Modificados (OGM) da
SEAB, também mostraram que os terminais privados do Porto de
Paranaguá estão liberados para transgênicos desde que sejam
transportados separadamente. “Existem oito terminais no Porto,
sendo que apenas um deles pertence ao Estado. Como este terminal
público tem capacidade de armazenamento de 110 mil toneladas e o
porto poder armazenar 1 milhão de toneladas, os terminais
privados podem transportar em torno de 900 mil toneladas
diariamente pelo Porto, basta separar a soja convencional da
transgênica”, explica Marcelo.
De acordo com Marcelo e Alvir, o governo do Paraná vai passar a
fiscalizar toda a cadeia produtiva da soja por exigência do
Código de Defesa do Consumidor e do Decreto 4.680, que exigem a
especificação no rótulo para produtos com mais de 1% de
transgênico na composição. O Chefe de Fiscalização de OGM
esclarece que 400 fiscais de sete secretarias de Estado vão
vigiar, a partir da próxima semana, supermercados e outros
pontos de revenda de produtos a base de soja, seja para a
alimentação humana ou ração animal.
Os responsáveis pela fiscalização dos transgênicos no Paraná
alertam que as multas para o estabelecimento que estiver
irregular vão variar de 200 a 3 milhões de UFIR´s e que o
objetivo principal não é penalizar empresários ou produtores,
mas sim “respeitar os direitos dos cidadãos de acordo com o
lei”. Marcelo acrescenta dizendo que “nós vamos coletar na
semana que vem amostras e encaminha-las para laboratórios
credenciados para fazer os testes. Os únicos produtos que nós
ainda não podemos avaliar por enquanto, por questões técnicas,
são o óleo de soja e a margarina, mas todos os outros passarão
por testes”. Conforme o Chefe de Fiscalização de OGM, o maior
temor do estado do Paraná não é com a soja transgênica, mas com
a capacidade de contaminação da soja convencional pela
geneticamente modificada pelo grande número de sementes ilegais
que existem na região.
Dionísio Gazziero, pesquisador da Embrapa Soja (Londrina-PR),
unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária-Embrapa,
vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
falou sobre o que muda no manejo de plantas daninhas com a soja
geneticamente modificada. Para ele as maiores mudanças vão
ocorrer no uso do herbicida e na facilidade e comodidade. Já no
manejo, tudo deve continuar como está. O pesquisador acredita
que a “safrinha é o grande responsável por espalhar sementes e
provocar o crescimento de ervas daninhas e que o período de
entressafra, entre as lavouras de verão e inverno, precisa de um
cuidado especial no controle dessas plantas danosas”.
Para Dionísio, as formas mais eficazes de fazer o manejo é por
meio do plantio de aveia, a dessecação no tempo certo, a rotação
entre soja transgênica e convencional e também a troca de
herbicidas de ação diferenciada. O pesquisador acredita que “a
soja transgênica vai continuar competindo por espaço com a erva
daninha se não for feito o manejo certo” e que, portanto, o
produtor não deve esquecer que o manejo integrado ainda é a
melhor maneira de evitar pragas, seja na soja transgênica ou na
convencional.
Para apresentar a visão dos compradores da soja brasileira, o
painel teve ainda uma palestra do diretor executivo do
Departamento de Certificação do Instituto Gênesis, Marcelo Rocha
Holmo, para quem o agronegócio brasileiro precisa se adequar às
exigências dos supermercados europeus. O Instituto Gênesis
hospeda no Brasil o Working Group Brasil, braço da EUREPGAP,
entidade que reúne 17 grandes organizações de supermercados
europeus que preconizam as Boas Práticas Agrícolas através do um
protocolo de exigências.
O objetivo é promover a segurança alimentar, minimizando os
riscos na produção agrícola; verificar as melhores práticas;
encorajar o melhoramento contínuo e manter o foco dos
consumidores em boas práticas. “É um novo modelo de gestão para
o agronegócio brasileiro”, destacou.
Holmo lembrou que uma grande parcela dos consumidores europeus
exige que os alimentos sejam orgânicos, que não sejam produzidos
em áreas de desmatamento e nem com a ajuda de mão-de-obra
escrava. A adequação às regras européias facilita a abertura do
mercado para os diversos itens, animais e vegetais, produzidos
na propriedade.