Brasília, Brasil
December 15, 2006
Juliane Sacerdote,
Agência Brasil
Uma decisão judicial favorável à participação da sociedade civil
nos debates impediu que ontem (14) a
Comissão Técnica Nacional
de Biossegurança (CTNBio) votasse relatório sobre a liberação
comercial de uma variedade de milho transgênico. Desde novembro
de 2005, quando a comissão foi reestruturada, nenhum pedido de
liberação comercial para alimento transgênico foi dada.
A paralisação levou 20 entidades científicas e do agronegócio a
elaborar um manifesto, enviado à ministra da Casa Civil, Dilma
Rousseff, pedindo o restabelecimento do antigo quórum de maioria
absoluta - sistema que daria rapidez às avaliações.
O documento foi entregue na última terça-feira (12). Entre as
entidades que assinam o documento estão a Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a Organização das
Cooperativas Brasileiras (OCB), e também a Associação Nacional
de Biossegurança (ANBio).
Na avaliação da presidente da ANBio e pesquisadora da Fundação
Oswaldo Cruz do Rio de Janeiro, Leila Oda, o atual sistema
quebra a continuidade dos processos “A lógica é realizar
pesquisas biotecnólogicas e elaborar produtos que possam ser
disponibilizados para a sociedade, num prazo máximo de cinco
anos", calcula a cientista.
"Se não se consegue colocar em votação ou aprovar os projetos,
não se justifica o investimento das empresas nessas pesquisas,
pois não há a certeza da votação. É um grande investimento que
vai se perder.”
Leila Oda defende que as instituições públicas seriam as maiores
prejudicadas, pois as multinacionais podem realizar seus estudos
fora do país. “Esse impasse está fazendo com que os
investimentos nas pesquisas, principalmente do setor público,
sejam redirecionadas a outras áreas, deixando a biotecnologia de
lado. Os pesquisadores não têm perspectiva que seus produtos vão
de fato chegar à sociedade.”
Outro problema, na opinião da presidente da ANBio, são os
protestos da sociedade civil e também a postura de alguns
membros da própria CTNBio, que estariam levando opiniões
ideológicas para as discussões. O Greenpeace, o Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) e os trabalhadores rurais
representados pela Via Campesina estão unidos na Campanha
Nacional por um Brasil Livre de Transgênicos. Eles acamparam em
vigília desde ontem, em frente ao portão de entrada que dá
acesso ao prédio da CTNBio.
A posição do Greenpeace é de que nenhuma variedade de milho
transgênico deve ser liberada. Segundo o engenheiro agrônomo da
organização, Ventura Barbeiro, estudos recentes realizados na
Europa demonstram que o milho Gardian BT, também chamado de
“milho inseticida” (por conter substâncias tóxicas) pode causar
um grande impacto na biodiversidade e matar não apenas as
pragas, mas todos os insetos ao redor da planta.
Na Câmara do Deputados, tramita a Medida Provisória 327/06, que
prevê o restabelecimento do sistema antigo de votação para as
liberações comerciais de transgênicos. A MP não foi votada esta
semana porque não houve acordo entre as lideranças, mas deverá
ser votada na próxima semana já que tranca a pauta. Se aprovada,
a MP segue para o Senado Federal, para apreciação dos senadores,
antes de ser enviada para sanção presidencial. |