Brazil
December 5, 2006
A XIV Reunião da Comissão Centro
Brasileira de Pesquisa de Trigo, evento que acontece a cada dois
anos para discutir tecnologias aplicadas ao cultivo do trigo e
planejar ações voltadas para o mercado do trigo, foi aberta na
manhã desta terça-feira (5) no auditório da
Embrapa Cerrados
(Planaltina-DF). A discussão sobre as perspectivas do trigo para
o Brasil, tema abordado por Elisio Contini, chefe de gestão
estratégica do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA), abriu a série de palestras do encontro.
Gilberto Rocca Cunha, chefe-geral da Embrapa Trigo, destacou “a
parceria histórica” entre sua Unidade e a Embrapa Cerrados nas
pesquisas voltadas para formular recomendações técnicas para a
produção de trigo no Brasil central. Já o chefe-geral da Embrapa
Cerrados, Roberto Teixeira Alves, destacou na abertura do evento
que o Cerrado é responsável apenas por 6% da produção nacional
de trigo, mas há potencial para aumentar a produtividade na
região.
Safra de trigo
Segundo Cunha, a queda na safra do trigo neste ano, motivada
pela seca no Paraná e as geadas ocorridas no início de setembro
no Rio Grande do Sul, deve forçar o país a gastar
aproximadamente 1,5 bilhão de dólares em importações para suprir
a demanda do mercado interno. A safra deste ano é estimada em
2,7 milhões de toneladas e o consumo, em expansão no Brasil,
deve superar 10 milhões de toneladas de trigo.
O chefe-geral da Embrapa Trigo comenta que o país tem grande
potencial para produzir trigo e domina as tecnologias, mas
continua sendo um grande importador. “O trigo não explode no
Cerrado porque há outras culturas com maior retorno econômico
para o produtor, como o feijão”, salienta.
Pioneirismo na pesquisa
Para o professor Ady Raul da Silva, 89 anos, pioneiro nas
pesquisas com trigo no país, é preciso diversificar as áreas de
plantio. “Quando comecei a pesquisar, em 1939, a produção era
limitada à zona sub-tropical. Tínhamos trigo no Rio Grande do
Sul e no sul do Paraná. Mas, hoje, é possível produzir acima do
trópico também”.
O professor Ady, ex-diretor geral do Departamento Nacional de
Pesquisa Agropecuária, órgão extinto com a criação da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no início dos anos
70, diz ainda que a produtividade do trigo por hectare, há 35
anos, era de apenas 800 kg. Os avanços conseguidos com a
pesquisa fizeram a produtividade atingir até 5 toneladas por
hectare nas regiões com melhor condição climática.
“Em Vacaria, no Rio Grande do Sul, e em Guarapuava, no Paraná,
por exemplo, temos lavoura de sequeiro com produtividade de 5
toneladas por hectare”, atesta Gilberto Cunha. Segundo Benami
Bacaltchuk, pesquisador da Embrapa Trigo, o sonho do professor
Ady continua aceso. “O trigo pode ser uma das culturas mais
importantes do Brasil e o país pode, de fato, ser um abastecedor
mundial”.
Futuro promissor
Elisio Contini traça um futuro promissor para a triticultura,
mas salienta que a produção não deve aumentar via subsídios
agrícolas ou desvalorização do Real. O chefe de gestão
estratégica do MAPA diz que o trigo é um produto com consumo
mundial consolidado. “É um alimento básico, um dos grandes
produtos mundiais com 600 milhões de toneladas”.
O consumo de trigo no Brasil é movido, segundo conta o
especialista, pelo aumento da população e o incremento no poder
de compra das classes C e D. A urbanização e a praticidade dos
produtos à base de trigo, como o pão francês, também são citadas
como propulsoras do consumo interno. “O aumento da renda tem
agregado milhares de consumidores ao consumo do trigo”, destaca.
O consumo de trigo no Brasil ainda é modesto se comparado com
outros países de economia em desenvolvimento. Em 2003, o Brasil
teve um consumo per capita de 51 kg de trigo por ano. Na China o
consumo per capita já atinge 67 kg e na Índia chega a 60 kg.
Para Contini, o Brasil deve consumir daqui a 10 anos em torno de
14 milhões de toneladas de trigo e atingir um consumo per capita
próximo ao indiano.
A XIV Reunião Centro Brasileira de Pesquisa de Trigo, evento
realizado pela Embrapa Cerrados em parceria com a Embrapa Trigo,
Embrapa Arroz e Feijão e Embrapa Transferência de Tecnologia,
prossegue na quarta-feira(6) com destaque para o painel
“Avaliação das safras de trigo dos anos 2005 e 2006 e
perspectivas para a próxima safra” com participação de
pesquisadores de diversas instituições. A Reunião será encerrada
na quinta-feira pela manhã com a ”Consolidação e reformulação
das recomendações técnicas para a produção de trigo no Brasil
Central – safras 2007 e 2008”. |