No primeiro dia de debates da 28ª
Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil, que
está sendo realizada em Uberaba, Minas Gerais, técnicos
apresentaram um panorama da produção de soja em quinze estados
brasileiros. “Esta edição está se realizando num momento
histórico de crise na agricultura brasileira, com grande impacto
na cultura da soja. As discussões que estão ocorrendo aqui nos
mostram exatamente como a pesquisa pode ajudar a superar esse
problema, seja influenciando no uso de tecnologia para a
produção ou na redução do seu custo. É um momento decisivo, que
vai influenciar o planejamento da próxima safra e se configurar
como uma oportunidade para buscar soluções para superação da
crise”, aponta Ralf Dengler, presidente da comissão
organizadora.
No balanço da safra 2005/06, a
ferrugem da soja, que já causa prejuízos acumulados de cerca de
U$ 8 bilhões, desde que apareceu pela primeira vez no Brasil em
2002, confirmou-se como principal problema da safra, com
ocorrência em praticamente todo o território brasileiro, com
exceção do Amapá.
A preocupação com o problema da
produção e comercialização de sementes ilegais também foi motivo
de destaque. Os relatos mostraram que a pirataria em sementes de
soja segue na contramão do que os agricultores precisam nesse
momento de crise. As sementes clandestinas levam à redução da
produtividade, uma vez que não estão adaptadas para as regiões,
não apresentam estabilidade de produção e ainda podem servir de
vetores para doenças.
Na safra 2005/06 outras pragas
e doenças também se revelaram altamente danosas quando
ocorreram em situações regionalizadas. Entre esses novos
desafios que estão se impondo ao sistema produtivobrasileiro
estão a mosca-branca, lagarta falsa-medideira e mofo-branco.
Relatos - Na Bahia, onde a
produção de soja se concentra em sete grandes municípios do
Oeste baiano a pressão da ferrugem foi menor, principalmente em
função das condições climáticas. “O veranico de janeiro retardou
o aparecimento da doença, mas também favoreceu a ocorrência de
pragas como a mosca-praga, que chegou a causar redução de
produtividade”, avalia Mônica Martins, pesquisadora da Fundação
Bahia.
No estado de Tocantins e
Distrito Federal observou-se uma evolução da cultura, com
destaque para o aumento da área de plantio direto. “Estamos
observando um crescimento do interesse pela lavoura-pecuária, o
que deve reduzir a abertura de novas áreas”, avalia Sérgio Abud,
pesquisador da Embrapa Cerrados. O pesquisador também apontou
uma ocorrência maior de mela e mancha-alvo, “principalmente pelo
uso de sementes piratas, que não apresentam resistência”,
destacou.
Em Goiás, quarto maior produtor
de soja, houve uma redução de área, produção e produtividade em
função das condições climáticas, alta severidade da ferrugem e
baixa adoção de tecnologias. As cultivares de soja convencionais
respondem por cerca de 54, 87% da área do estado, enquanto a
soja transgênica ocupa cerca de 35,12%. “O percevejo castanho
tem se tornado um problema sério nas regiões Sul e Sudoeste do
estado”, revela José Nunes Júnior, do Centro Tecnológico para
Pesquisas Agropecuárias – CTPA. Além disso, o técnico destaca
que na safra 2005/06 a ocorrência de mofo-branco foi mais grave
do que em anos anteriores.
Em Minas Gerais, a agrônoma Ana
Luisa Zanetti, da Fundação Triângulo, também destacou a
ocorrência de mofo-branco, podridão vermelha da raiz e lagarta
enroladeira. No estado de Mato Grosso do Sul, o técnico Carlos
Pitol, da Fundação MS, destacou o processo de substituição das
sementes piratas por sementes certificadas. “As sementes
transgenicas respondem por cerca de 60 a 70% da área e o
restante são sementes convencionais”.
Em Mato Grosso, o técnico
Rodrigo Brogin, apontou a redução de 3,5% na área da última
safra e destacou a possibilidade de uma redução ainda maior para
a próxima safra, estimada em cerca de 15% a 20%. “Também ocorreu
um aumento de plantas daninhas resistentes, como o leiteiro e o
bicão. Na região médio norte, o problema maior foi a
mosca-branca”, observa. Em Rondônia, houve um crescimento de 15%
na área em relação à safra passada. “A soja é cultivada em áreas
de cerrado, substituindo áreas de pastagens ou arroz”, destacou
Brogin.
No estado do Pará, que segue um
calendário de plantio diferenciado, o maior desafio é a mela,
doença causada por fungo que causa mais danos em regiões quentes
e úmidas. “É uma região onde a preocupação ambiental é grande e
estamos preocupados em buscar alternativas para fugir da
monocultura e ampliar o plantio direto”, pondera a pesquisadora
Ruth Benchimol, da Embrapa Amazônia Oriental.
O Paraná, que este ano teve o
mais grave ocorrência de ferrugem desde que a doença apareceu,
apresentou redução de 5,4% na área e de 1,4% na produtividade.
“Entre os maiores problemas estão o controle de plantas daninhas
resistentes, a segregação da soja transgênica, a baixa
rentabilidade das lavouras e a queda no uso do manejo integrada
de pragas, tecnologia que ajudar a reduzir o número de
aplicações de inseticidas”, destacou Nelson Harger, agrônomo da
Emater-PR.
Em Roraima, o técnico Oscar
Smirdele destacou a ocorrência das doenças melo e antracnose e
mosca-branca. “Além disso, a lavoura não tem apresentado seu
potencial produtivo em função da baixa nodulação das raízes”,
aponta. O estado de São Paulo também tem encontrado dificuldade
para eliminar as plantas daninhas resisntes e é crescente a
preocupação com o necessidade de retomada do manejo integrado de
pragas, segundo Paulo Reco, do IAC.
A 28ª Reunião de Pesquisa de
Soja da Região Central do Brasil é uma promoção da Embrapa Soja,
com organização da Fundação Meridional e Fundação Triângulo.
Esta edição do evento, que termina nessa quarta-feira, está
reunindo cerca de 450 participantes dos principais estados
brasileiros. Juntas, as duas fundações reúnem produtores de
sementes de grande parte da região central do Brasil.