Brazil
September 7, 2005
O arroz selvagem, encontrado nas
várzeas e no cerrado de Roraima, pode contribuir para as
pesquisas de melhoramento genético das variedades comerciais de
arroz que vão para a mesa do brasileiro. A
Embrapa desenvolve pesquisas
nesse sentido e está realizando uma expedição para coleta de
arroz silvestre e de variedades crioulas nas regiões de cerrado
e várzea, visando a utilização em pesquisas. A expedição
percorre as áreas rurais dos municípios de Roraima, incluindo a
Estação Ecológica da Ilha de Maracá e o Parque Nacional do
Viruá, encerrando no dia 9 de setembro.
A expedição vai coletar amostras das quatro espécies silvestres
existentes no Brasil - Oryza glumaepatula, Oryza latifolia,
Oryza alta e Oryza grandeglumes – para conservação dos
recursos genéticos que, posteriormente, serão utilizados no
melhoramento de arroz. Também serão coletadas variedades
crioulas, cultivadas por agricultores familiares.
Tanto as crioulas quanto as silvestres possuem características
desejáveis que, a partir da pesquisa, poderão ser incorporadas
no melhoramento das variedades comerciais de arroz.
As espécies silvestres, popularmente conhecidas como arroz
selvagem, arroz nativo ou arroz de pato, são aquelas que se
desenvolvem naturalmente no meio ambiente e não passaram por um
processo de domesticação. O pesquisador da Embrapa Roraima,
Paulo Emílio Kaminski, explica que uma espécie silvestre pode
apresentar grande distribuição geográfica, como a espécie
Oryza glumaepatula, existente em todo o Brasil, ou ocorrer
em uma área restrita de uma região, como a Oryza latifolia que
possui uma distribuição restrita à região Norte do Brasil.
As variedades crioulas são resultantes de migrações, pois quando
os agricultores migram geralmente levam sementes para reproduzir
seus cultivos em outras regiões e isso pode gerar materiais com
novas características quando cultivada em pequenos locais, em
condições de solo e clima diferentes da área original.
O pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão, Paulo Hideo Rangel,
afirma que as variedades crioulas são importantes para a
pesquisa, porque passaram por um processo de seleção e adaptação
às condições locais. Esses materiais poderão ser cruzados para
gerar resistência, por exemplo, à “brusone do arroz”, que é uma
das principais doenças dessa cultura.
Quanto às espécies silvestres, Rangel informa que serão
verificados se existem genes exóticos que expliquem como as
plantas se desenvolvem em solos pobres. Segundo o pesquisador,
essas espécies podem apresentar genes que permitem a tolerância
a determinados nutrientes como o alto teor de alumínio e ferro
de alguns solos. Se esses genes forem incorporados às variedades
comerciais poderão trazer melhores resultados para a
agricultura.
Os resultados desse trabalho, além de serem úteis para o
programa de melhoramento de arroz da Embrapa, poderão servir
para futuros programas de conservação dos recursos genéticos no
estado de Roraima.
Rangel justifica que a expedição está sendo realizada em Roraima
porque o estado tem biomas totalmente diferentes de outras
regiões do Brasil e, por suas características de clima e solo,
diferencia-se até mesmo de outras regiões de cerrado. Outras
regiões com características interessantes para a pesquisa também
serão alvo de coleta. Esse trabalho faz parte do projeto
“Identificação, Coleta, Mapeamento e Conservação de Variedades
Tradicionais e Espécies Silvestres de Arroz no Brasil”, que
integra o projeto Conservação e Utilização Sustentável da
Diversidade Biológica Brasileira – Probio, financiado pelo
Ministério do Meio Ambiente.
Participam do projeto a Embrapa Roraima, Boa Vista (RR), e a
Embrapa Arroz e Feijão, de Goiânia (GO), ambas unidades da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Também
participam a Secretaria de Agricultura e do Órgão Ambiental
Naturatins, ambos do Estado de Tocantins. A expedição em Roraima
conta com o apoio da unidade local do Ibama.
Conservação Genética - Diante do risco de desaparecerem
do meio ambiente e pela sua importância na pesquisa de
melhoramento, as espécies silvestres serão incorporadas ao banco
de germoplasma da Embrapa, para conservação e caracterização de
recursos genéticos. Pesquisas anteriores da Embrapa, nos últimos
nove anos, já resultaram em 35 linhagens de arroz, desenvolvidas
a partir de coletas nos estados de Ceará, Paraíba, Tocantins,
Goiás e Roraima. |