Brazil
October 31, 2005
Nos
últimos 30 anos, enquanto a área cultivada com milho cresceu em
50% no Brasil, passando de 8 para 12 milhões de hectares, a
produtividade praticamente triplicou. Apesar do rápido avanço,
especialistas do agronegócio avaliam que o Brasil ainda mantém a
produtividade que os Estados Unidos já alcançavam na década de
1960, média de 3,5 mil kg/ha. A densidade de plantas é um dos
principais responsáveis pelo baixo rendimento.
De acordo com o
pesquisador Mauro Celaro Teixeira da Embrapa Trigo (Passo Fundo
– RS), Unidade da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária(Embrapa),
vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa),o produtor precisa avaliar o ambiente para escolher a
cultivar e o arranjo de plantas mais adequado para a semeadura
do milho.
"A densidade de plantas deve ser
escolhida em função não somente da cultivar, mas da
disponibilidade hídrica e de nutrientes", afirma o pesquisador
lembrando que, atualmente, estão disponíveis no mercado dezenas
de cultivares de milho, com diferenças em características
agronômicas que variam desde a arquitetura da planta até a
tolerância a estresses ambientais.
"Das cultivares disponíveis hoje, 14%
são semi-precoces, 20% são super-precoces e 63% são precoces.
Normalmente, cultivares mais precoces, de menor porte e folhas
mais eretas permitem o uso de densidades mais elevadas, podendo
variar normalmente de 40 a 70 mil plantas por hectare. O
fundamental na cultura do milho, para obter altos rendimentos, é
não seguir tendências, e reduzir o espaçamento aumentando a
população de plantas, sem antes avaliar se a cultivar e as
condições do ambiente são adequados", argumenta Mauro Teixeira.
O adensamento de plantas pode
significar o melhor aproveitamento da radiação solar, resultando
em melhoria do índice de área foliar e conservação da umidade no
solo para enfrentar o risco de estiagem. O espaçamento entre
fileiras reduziu significativamente nos últimos anos, passando
de 1,2m para 0,80m ou 0,40m, conforme o ambiente e a cultivar.
Contudo, para o pesquisador da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Paulo Regis da Silva,
o espaçamento na entrelinha não influi diretamente no
rendimento, apesar de reconhecer que a redução ajuda a controlar
a infestação de plantas daninhas que dependem da luz para se
desenvolver.
O pesquisador sugere, ainda,
espaçamentos de 40 a 50cm entre plantas. "É preciso adaptar a
densidade regionalmente, considerando que uma densidade muito
menor é tão prejudicial quanto uma densidade muito grande. A
baixa densidade resulta no subaproveitamento da radiação,
resultando no ressecamento do solo, plantas mais altas e espigas
com número menor de grãos. A alta densidade torna a expansão
foliar limitada e a concentração de espigas no dossel que
ocasiona acamamento", explica Paulo Silva.
Fugindo da seca
Em regiões que
apresentam deficiência hídrica, os especialistas recomendam uma
redução de 50% no número de plantas. "A longevidade do período
de liberação de pólen no milho encurta, o que reduz o número de
espigas", esclarece Paulo Silva, salientando que a competição
por água e nutrientes pode resultar em doenças como podridão da
raiz, e o mau empalhamento das espigas implicando em grãos
ardidos.
A regra geral para o produtor de milho
é decidir a densidade após definida a época de semeadura. Na
região Sul do país, por exemplo, o plantio do cedo, que ocorre
nos meses de agosto/setembro, pede maior densidade já que o
período de final de inverno disponibiliza pouca luz, implicando
em menor crescimento das plantas. Ao contrário, no plantio do
tarde (novembro/dezembro), espaçamento e densidade devem ser
maiores para amenizar os efeitos da radiação solar intensa.
Potencial produtivo: sonho x
realidade
Conforme a pesquisadora da Embrapa
Trigo, Beatriz Emygdio, o potencial produtivo do milho poderia
chegar a 30 mil kg/ha (500 sc) em condições que a especialista
chama de "hipotético ótimo", ou seja, uma soma de fatores
relacionados ao clima, nutrientes, insumos e tecnologia de ponta
durante todo o processo produtivo.
Atingir esse
volume, algo como uma carreta de grãos por hectare, é um sonho
até para a pesquisa, onde a maior produtividade alcançada até
hoje em experimentos foi de 20 mil kg/ha (333 sc) em ambiente
controlado. Mesmo nas lavouras comerciais espalhadas pelo país a
disparidade é muito grande, variando de 16.800 kg/ha (280 sc) no
recordista brasileiro em 2004, até a média nacional que se
mantém em 3.500 kg/ha (58 sc).
"Estas diferenças
resultam de uma série de fatores combinados. Entre eles, o nível
de adoção de tecnologia pelo produtor, o cultivo do milho em
áreas marginais, a escolha da cultivar, além de conhecimentos
básicos de espaçamentos, densidade e época de semeadura. Isto
impede que a cultivar expresse todo o seu potencial produtivo",
avalia Beatriz. |