Brazil
November 28, 2005
Uma
cultivar de soja de sabor mais adocicado que as tradicionais é a
novidade da Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, para mercado
interessado em soja para alimentação humana. A cultivar, que
ainda está em fase de registro junto ao Ministério da
Agricultura, estará disponível para multiplicação de sementes na
próxima safra.
O novo produto foi desenvolvido por intermédio do cruzamento
genético tradicional, portanto, sem a utilização da
biotecnologia. “Essa soja é mais doce porque conseguimos cruzar
várias plantas com características desejáveis como maior teor de
sacarose e de ácido glutamínico que melhora o sabor. Mesmo tendo
a presença da enzima lipoxigenase –que confere gosto de feijão
cru à soja - a nova cultivar tem o sabor bastante agradável,
conforme verificamos em testes sensoriais”, explica a
pesquisadora Mercedes Panizzi, da Embrapa Soja.
A nova soja apresenta sementes grandes, sabor suave, sendo ideal
para produção de queijo de soja (tofu), farinhas e extrato de
soja (leite). “Essa cultivar pode ser consumida como soja verde
ou hortaliça. Como hortaliça, a soja é vendida com as vagens
presas nos galhos, com as vagens soltas, ou com os grãos
debulhados”, diz. “Este é um hábito bastante comum no Japão e
pretendemos estimular também no Brasil.
A Embrapa Soja, por meio do melhoramento genético tradicional,
já lançou cinco cultivares específicas para a alimentação
humana, que podem ser produzidas em sistemas orgânico ou
convencional. “A Embrapa Soja tem procurado estimular diferentes
linhas de pesquisa que atendam aos nichos de mercado demandados
pela sociedade. Por isso, o desenvolvimento de cultivares
convencionais para alimentação, adequadas para serem produzidas
em sistema orgânico, tem sido uma de nossas prioridades”,diz a
chefe geral da Embrapa Soja, Vania Castiglioni.
A Fundação Meridional de Apoio à Pesquisa, que multiplica as
sementes de soja da Embrapa em São Paulo, Paraná, Santa Catarina
e Mato Grosso do Sul, também está otimista com este novo nicho
de mercado. Tanto que a parceria entre as instituições vai
testar novas plantas de soja específicas para a alimentação
humana em 29 locais de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Mato
Grosso do Sul. “Acreditamos que o consumo de produtos à base de
soja é cada vez mais crescente, por isso apoiamos a Embrapa no
desenvolvimento de cultivares convencionais específicas para
alimentação e que possam ser produzidas em sistema orgânico”,
explica o gerente técnico da Fundação Meridional, Ralf Dengler.
Além do trabalho de pesquisa, a parceria entre as instituições
pretende incrementar a divulgação de cultivares para alimentação
humana nos dias de campo, desta safra, e realizar eventos
técnicos para aprofundar o conhecimento de agrônomos da
assistência técnica pública e privada. “Uma novidade desta safra
será a contratação de uma culinarista que poderá ministrar
cursos de culinária de soja nos quatro estados onde atuamos.
Também pretendemos implantar unidades de demonstração de soja na
alimentação em vários pontos do Brasil com destaque para a
degustação de produtos à base de soja”, explica
Cultivares específicas para alimentação - O aumento do consumo
de soja no Ocidente vem exigindo das instituições de pesquisa o
desenvolvimento de cultivares de soja com sabor mais suave e que
se contrapõe ao gosto exótico da soja. Por isso, nos últimos 10
anos, a Embrapa Soja desenvolveu várias cultivares convencionais
específicas para alimentação.
As cultivares BRS 213 e BRS 257, que têm como principal
característica a ausência de lipoxigenases, já estão sendo
produzidas comercialmente. A utilização destas cultivares no
processamento doméstico e industrial da soja permite obtenção de
produtos com melhor qualidade e sabor superior.
Nesta safra, a Cooperativa Agroindustrial de Maringá (Cocamar)
que utiliza 3 mil toneladas por ano de soja para produção de
sucos, cremes e extratos de soja, estará produzindo pela
primeira vez, as cultivares BRS 213 e BRS 257. “Como utilizamos
uma soja comum no fabricação de nossos produtos, precisamos dar
o choque térmico para inativar a lipoxigenase e melhorar o sabor
da soja. Nossa expectativa é com a BRS 213 e 257 é conseguir
eliminar esta etapa da produção, incrementando ainda mais o
sabor dos produtos à base de soja e reduzindo custos”, avalia
José Ademir Ranieri, coordenador técnico da Cocamar.
Outro exemplo é a cultivar BRS 258 que possui outras
características exigidas pelo mercado como sementes grandes, e
hilo claro. Por outro lado, a cultivar BRS 155 apresenta
reduzido teor de inibidor de tripsina (fator antinutricional que
interfere na digestão de proteínas), o que permite redução do
tratamento térmico. “Isso diminui custos de processamento e
melhor solubilidade das proteínas”, diz Mercedes.
Outra cultivar para alimentação humana, desenvolvida pela
Embrapa, é a BRS 216 que apresenta grãos pequenos (10g/peso de
100 sementes), característica que a torna adequada para a
produção de natto - alimento fermentado utilizado no Japão - e
para produção de brotos de soja, a exemplo, de brotos de feijão
(“moyashi”). |