Brazil
November 1, 2005
A seca da
última safra prejudicou praticamente todas as regiões produtoras
de sementes de soja no país, mas foi no Rio Grande do Sul,
tradicional exportador de sementes para os demais estados, que
os efeitos devem limitar os resultados na safra de verão.
Apesar da autorização do
Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) em caráter emergencial, a
Embrapa Transferência de
Tecnologia, Escritório de Negócios de Passo Fundo - RS, estima
que o volume de semente de soja produzida no RS, pelos
produtores devidamente registrados no ministério, atenda apenas
15% da demanda dos gaúchos.
O estresse ambiental causado pela seca na safra passada forçou a
maturação da soja chegando a ocasionar a morte prematura das
plantas. O déficit hídrico também foi responsável pela
incidência de doenças e pragas, tornando a planta ainda mais
debilitada. O resultado deste processo foi a geração de grãos
verdes e sementes com problemas de germinação e vigor.
A legislação vigente determina o padrão mínimo de qualidade de
germinação de sementes de soja certificada e categorias S1 e S2
em 80%, isto é, num lote de sementes legalmente comercializadas,
a quebra pela não germinação deve ficar em 20%.
Devidos aos problemas acarretados pela estiagem, a Comissão
Estadual de Sementes e Mudas encaminhou uma solicitação à
Superintendência do MAPA do RS visando estabelecer, em caráter
excepcional, o rebaixamento do padrão de qualidade para sementes
de soja na safra 2004/2005 para 70% de germinação para as
categorias C1, C2, S1 e S2, e 60% para a categoria semente
básica.
A autorização do MAPA foi publicada no dia 29 de setembro,
através da Portaria 268, que determina os padrões mínimos de
qualidade na comercialização de sementes de soja produzida no RS
na safra 2004/2005 para utilização somente neste Estado na safra
2005/2006.
Ainda assim, segundo o gerente da Embrapa Transferência de
Tecnologia Escritório de Negócios de Passo Fundo - RS, Airton
Lange, o volume de sementes que poderá ser aproveitado de
acordo com o padrão estabelecido pela portaria deverá ser em
torno de 60 mil toneladas, o que supre apenas 15% da demanda
potencial dos produtores gaúchos, estimada em 250 mil toneladas
para a próxima safra.
Soja verde pode comprometer a semente
O alerta é do pesquisador da Embrapa Transferência de Tecnologia
Escritório de Negócios de Ponta Grossa, PR, Osmar Beckert.
Segundo ele, a germinação da semente de soja reduz
proporcionalmente à presença de grãos verdes. “Os efeitos ficam
mais evidentes quando o verde é mais intenso”, comenta Beckert,
ressaltando que “um volume acima de 10% de sementes verdes no
lote traz sérios problemas à lavoura”.
Como se não bastasse, a indústria rejeita grãos verdes porque a
clorofila aumenta os custos do processo de refino do óleo. O
grão verde ainda resulta em maior acidez e implica na redução do
teor de óleo de 2 a 3%.
“Se a morte da planta ocorrer no inicio ou no meio da fase de
enchimento de grãos o vigor da semente está comprometido. Mas se
a planta morrer no final da fase de enchimento de grãos a
coloração verde tende a desaparecer durante a armazenagem”,
orienta Beckert.
Nem mesmo a aparente sanidade e uniformidade do grãos garante a
qualidade da semente. Airton Lange ressalta a necessidade de
realizar testes de germinação e vigor nos lotes de sementes. “O
grão pode ser bonito e não germinar, ou resultar numa planta
fraca, suscetível aos estresses do ambiente”, explica ele,
orientando o produtor a retirar amostras para testes em
laboratório em número mais significativo possível.
“Os produtores que adquirirem semente de soja produzida por
produtores devidamente registrados no MAPA não precisam se
preocupar, uma vez que esta semente, para ser comercializada,
precisa atender as exigências contidas nas Normas de Produção de
Sementes estabelecidas pela legislação”, conclui Lange. |