Brasília, Brasil
March 20, 2005
Lana Cristina
Repórter da Agência
Brasil
A pesquisa para se obter o feijão transgênico resistente ao
vírus do mosaico dourado começou com o isolamento do vírus e o
estudo de sua variabilidade, nas regiões brasileiras. Depois de
estudar várias estratégias de melhoramento, o grupo de biologia
celular do Cenargen desenvolveu, em laboratório, a primeira
planta de feijão geneticamente modificada com resistência ao
vírus, em 1999.
A modificação introduzida foi a mutação de uma proteína do vírus
que o fazia se multiplicar ao entrar na célula da planta. Os
pesquisadores produziram a mutação ao trocar seqüências da
proteína, os chamados aminoácidos, o que a tornou não-funcional.
"Assim, quando o vírus entrava na planta, percebia que havia uma
quantidade da proteína, que ele desconhecia ser não-funcional e
não a produzia. Como aquela que estava ali não servia para que
ele se multiplicasse, sua reprodução se reduzia drasticamente",
explica Aragão. Os pesquisadores conseguiram, então, que
houvesse uma redução considerável dos sintomas da doença numa
única planta e no número de plantas contaminadas.
Com todos os testes de laboratório concluídos, o experimento
estava pronto para ir ao campo em 2000. Havia, inclusive, várias
gerações de feijão transgênico em casas de vegetação da
Embrapa (o experimento está,
hoje, na 10ª geração). A Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança (CTNBio), órgão responsável pela análise da
segurança e por expedir a autorização para realização de
pesquisas que envolvam transgênicos, analisou o pedido do grupo,
mas o experimento ficou paralisado devido à um entrave
jurídico-administrativo. Em 2002, as plantas biocidas foram
enquadradas na legislação de agrotóxicos e veio a exigência do
Registro Especial Temporário (RET) para testes com plantas
transgênicas com essa característica.
A determinação veio da Instrução Normativa nº 2, de iniciativa
conjunta dos Ministérios da Agricultura e do Abastecimento, do
Meio Ambiente e da Saúde, que atendeu a uma liminar do
Ministério Público Federal de 2001. Como não havia
regulamentação legal para o tema, as pesquisas com plantas
biocidas ficaram paradas até o ano passado. "Para resumir, só
conseguimos a licença para os testes em campo, em março de 2004,
mas depois da melhor época para plantio que seria entre
dezembro, no máximo fevereiro, período de condições ideais para
a infestação com mosca-branca", conta Aragão.
O plantio foi feito em abril e os pesquisadores não obtiveram o
índice de infestação desejado nas chamadas plantas-controle. "A
população de moscas-brancas foi pequena nos dois plantios,
transgênico e não-transgênico e também o índice de mosaico",
relata o pesquisador. Ainda assim, foram feitas avaliações como
o impacto sobre os microorganismos presentes no solo, presença
de insetos e composição nutricional do feijão. Os pesquisadores
concluíram que a espécie transgênica tem os mesmos componentes
nutricionais que a convencional e que não alterou o ambiente
local. As avaliações são feitas sempre com base na comparação
entre as espécies transgênica e convencional.
Agora, com nova autorização para o experimento, um segundo
cultivo foi feito no mês passado. Plantas transgênicas e
não-transgênicas foram cultivadas numa área de 400 metros
quadrados. "A população de moscas está boa e as plantas
receberam uma superdosagem de vírus. Estamos esperando os
primeiros sintomas aparecerem para avaliar", disse. Depois dessa
fase, acrescenta Aragão, o grupo vai estudar o efeito do feijão
em camundongos.
Enquanto isso, os pesquisadores do Cenargen estudam outra
estratégia para modificar a planta de feijão e conferir à
leguminosa múltipla resistência. Algumas plantas já foram
geradas no âmbito dessa nova linha de pesquisa |