O arroz faz parte da dieta básica
do brasileiro e junto com o feijão constitui o"prato nacional"
por excelência , incorporado inclusive à nossa linguagem como
sinônimo de algo que seja básico:´"... é o arroz com feijão.."
Somos o maior produtor de arroz da América latina e do mundo,
depois dos países asiáticos.
Em 2004, um excedente de 100
mil toneladas na produção de arroz levou o Brasil de volta ao
mercado exportador após 27 anos de ausência. Mas antes que
nossos produtores pudessem comemorar o fato, um grande balde de
água fria em forma de um alerta quarentenário ameaça acabar com
a festa.Steneotarsonemus spinki, é um ácaro originário
provavelmente da Ásia tropical, que está se aproximando de
nossas fronteiras e provavelmente entrará em nosso País, já
que no ano passado foi detectado na Costa Rica, Nicarágua e
Panamá.
Cuba, República Dominicana e
Haiti sofreram o ataque do S. spinki ou ácaro do arroz, com
prejuízos que atingiram até 90% de suas respectivas produções na
safra de 1998. A introdução da praga nesses países se deu
provavelmente por meio de sementes originárias da Ásia(China/
Índia ) onde foram feitos os primeiros registros de sua presença
na cultura do arroz, e sua disseminação se dá pelo vento, água,
aves, insetos, restos
culturais e intercâmbio de sementes ( na Coréia foi encontrado
em casas de vegetação que testavam material genético de arroz)
Além do ataque do ácaro à planta sugando sua seiva e
debilitando-a, os danos ocorrem também pela injeção de toxinas e
porque o S. spinki é disseminador de um complexo de fungos,
bactérias e nematóides que se aproveitam da carona dos ácaros
para chegar aos tecidos mais susceptíveis das plantas e
infectá-las.
As plantas infestadas podem
apresentar manchas amarronzadas na parte interna das bainhas,
nas folhas, deformação e esterilidade das panículas que (vazias)
permanecem eretas denunciando as perdas. O problema é que além
de microscópicos e transparentes (a fêmea, que é maior que o
macho, mede cerca de 0,3 mm), os ácaros se localizam no interior
da bainha das folhas, o que exige uma inspeção bastante
minuciosa, inclusive com instrumentos óticos adequados, para
fazer a detecção.
Sob controle
Segundo a pesquisadora Denise Návia da Embrapa Recursos
Genéticos e Biotecnologia que esteve em 2004 em Cuba, onde
atualmente a infestação do S. spinki está sob controle, o
manejo foi feito, basicamente, com a utilização de variedades
resistentes, trato cultural como a padronização do período de
plantio (variedades precoces) e destruição de restos culturais.
Também em Costa Rica, de acordo com o engenheiro agrônomo Carlos
Sanabria, esses métodos de controle, ao contrário do controle
químico, vêm se mostrando bastante eficientes.
A lavoura arrozeira é praticada
em todo o Brasil mas é mais forte nos estados do Rio Grande do
Sul, Norte do Mato Grosso, Sul de Mato Grosso do Sul, Goiás, e
mais recentemente, Norte do Pará e de Roraima e no Maranhão.
Esses últimos são justamente os mais vulneráveis, no caso de
uma infestação vinda da América Central por meios naturais.
Diferentemente do que se
acreditava (que o arroz - Oryza sativa seria o único hospedeiro
do ácaro), na Costa Rica e Panamá ele foi encontrado em uma
outra espécie de Oryza invasora se reproduzindo, o que
significa que além do arroz, ele poderá usar outros hospedeiros
entre espécies de gramíneas quando não encontrar plantios de
arroz.
A situação se complica quando
se observa que as condições climáticas da maior parte das nossas
áreas produtoras são favoráveis à proliferação do ácaro, podendo
se prever danos mais sérios nas regiões Norte e Centro Oeste.
Para quem acaba de voltar ao
mercado internacional, a simples constatação da presença de uma
praga quarentenária, como é o caso do Steneotarsonemus spinki,
já seria um entrave justificado às exportações, por isso, na
página da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Unidade da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária-Embrapa, vinculada
ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento na
internet
(www.cenargen.embrapa.br), na seção de publicações,
encontra-se disponível para "down load", o número 117 da Série
Documentos, que tem como autores Renata Santos Mendonça,
pesquisadora visitante PROBIO da Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia; Denise Návia e Reinaldo Israel Cabrera -
pesquisador cubano do Instituto de Investigaciones de Citricos y
Frutales La Habana/Cuba e é dedicado ao ácaro, assim como o
folder disponível no mesmo endereço, na Sanivege (Rede de
Pesquisa em Sanidade Vegetal).
Paulo Euler (MTb 00104-DF)
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia