A
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) -
vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
e a Universidade Estadual do Maranhão estão investigando quais
variedades de arroz têm constituição genotípica resistente a uma
praga bastante corriqueira nas lavouras. Os pesquisadores a
designam Tibraca limbativentis Stal; os produtores a conhecem
por percevejo-do-colmo e, regionalmente, os orizicultores do
Maranhão a chamam de “cangapara”, devido à semelhança entre o
inseto e um quelônio homônimo, muito comum na baixada
maranhense.
Nenhuma variedade de arroz
comercializada é totalmente resistente ao percevejo-do-colmo.
Entretanto, a pesquisa possui pistas de que existem diferenças
significativas no nível de dano causado pelo inseto aos
distintos genótipos de arroz. De acordo com Evane Ferreira,
coordenador do trabalho, há grande oscilação na porcentagem e no
número de colmos (caule do arroz) danificados por causa da
alimentação do inseto, conforme a variedade cultivada.
Para identificar quais plantas
são mais resistentes, foi implantado na Embrapa Arroz e
Feijão,(Santo Antônio de Goiás – GO), um ensaio em ambiente
controlado. Foi realizada a criação do inseto em casa de
vegetação e plantas com mais de 20 dias de idade foram
infestadas com populações de ninfas (fase jovem) do inseto, de
idênticas idades.
A metodologia utilizada no
ensaio é o delineamento experimental de blocos aumentados de
Federer, com dez repetições de 10 variedades cultivadas, sendo
cada uma com seis materiais de arroz do Maranhão e mais quatro
testemunhas, variedades cuja resistência ao inseto é conhecida.
Ao todo estão em avaliação 60 materiais de arroz do Maranhão em
relação as quatro testemunhas. Evane Ferreira diz que estão sob
estudo as três diferentes formas de resistência de planta em
relação ao percevejo-do-colmo, a saber a antixenose, a
tolerância e a antibiose.
“Na antixenose, vamos averiguar
quais são as variedades preferidas pela praga para sua
alimentação e abrigo. No segundo caso, acompanharemos a
capacidade das variedades em suportar o ataque do percevejo e,
no último, observaremos se há algum efeito das variedades sobre
o crescimento e fases de desenvolvimento do inseto”, explica o
entomologista.
Segundo ele, a avaliação final
para antixenose será feita a partir da concentração de adultos
da espécie e de seus sintomas de ataque nas plantas das
variedades submetidas a sua escolha em cada repetição. Ou seja,
será realizada pelos números de folhas centrais mortas,
popularmente “coração morto”, quando visível, e nas plantas mais
desenvolvidas pelo número de “panículas parcial ou totalmente
brancas”, isto é, panículas com intensidade variável de falhas
no enchimento de grãos.
Para tolerância, será levado em
conta o número de colmos vivos e mortos de cada variedade,
quando o inseto atingir a fase adulta, em relação ao número de
colmos de cada variedade (parcela) colocados inicialmente à
disposição das ninfas. E, para a antibiose, será aferida a
sobrevivência, o desenvolvimento e a massa corporal dos insetos
no término do experimento. Posteriormente, será feito estudo
sobre a razão sexual e taxa de fecundidade dos adultos.
Esse trabalho preliminar de
identificação das três distintas interações inseto-planta deve
durar mais 40 dias. “Depois disso, os parâmetros citados serão
submetidos à análise estatística e os resultados vão indicar
quais as variedades que devem passar para avaliações mais
acuradas de resistência ao percevejo”, afirma Evane Ferreira.
A bolsista do CNPq, Joseane de
Souza, conta que o percevejo-do-colmo é a principal praga do
arroz naquele Estado, presente em municípios como Balsas,
Grajaú, Imperatriz, Barra do Corda, Codó, Bacabal, Santa Luzia,
Arari, Bom Jardim e São Mateus. Ela diz que em condições
favoráveis o inseto é bastante nocivo e pode causar perdas de
até 80% na produção. Segundo a literatura, apenas dois
percevejos por metro quadrado são capazes de reduzir o
rendimento de grãos em cerca de 600 quilos por hectare.
Para Joseane de Souza, a
pesquisa de variedades de arroz resistentes à praga beneficiará
principalmente pequenos produtores. “A orizicultura no Maranhão
é feita de forma rudimentar, sem o uso de tecnologias
apropriadas. Portanto, a utilização de plantas que possuam maior
resistência genética é uma boa opção, pois não exige
conhecimentos técnicos específicos, além de não ser poluente nem
acarretar ônus ao custo de produção”, argumenta.
Evane Ferreira esclarece ainda
que estratégias de controle da praga via defensivos são de
difícil emprego. É que o percevejo-do-colmo fica durante muito
tempo na base da planta, principalmente quando jovem, sendo
necessário grande volume de calda inseticida para alcançá-lo.
O ataque do percevejo às
plantas, segundo Evane Ferreira, ocorre a partir de 20 dias após
a emergência do arroz. As ninfas do percevejo posicionam-se mais
perto do solo, colocando-se de cabeça para baixo para sugar a
base do colmo. Já os insetos adultos, que surgem em
aproximadamente 43 dias após a eclosão dos ovos, preferem picar
as hastes mais desenvolvidas.
Conforme Evane Ferreira, o
percevejo-do-colmo é capaz de completar duas gerações durante o
período normal de permanência do arroz no campo. Geralmente, há
ainda uma terceira geração que se completa nos restos da cultura
e que migrarão para plantas hospedeiras onde permanecem até a
próxima safra, quando retornarão à lavoura.
O entomologista afirma que o
percevejo-do-colmo está presente nos sistemas de cultivo de
terras altas, de irrigação por inundação e de várzea úmida,
assumindo neste último maior importância dada a ausência de
lâmina d´água sobre o solo, o que permite ao inseto se localizar
na base das plantas, entre os colmos, em contato com a umidade
superficial, condição favorável ao aumento populacional da
praga.
Após a identificação dos
genótipos de arroz resistentes ao percevejo-do-colmo, deverão
ser repetidos os ensaios, novamente, em ambientes controlados,
para certificação de que os materiais são realmente promissores.
Só depois disso, as variedades serão recomendadas como
alternativa de controle à praga ou para inclusão em trabalhos de
melhoramento genético da cultura.
A pesquisa com variedades de
arroz para resistência ao percevejo-do-colmo tem parceria com o
Departamento de Fitotecnia e Fitossanidade da Universidade
Estadual do Maranhão e conta com a participação do professor
Evandro Ferreira das Chagas.
No Maranhão, o arroz é cultura
de subsistência, sendo o principal alimento das famílias. Com
uma produção em torno de 650 mil toneladas (7% da produção
nacional), o Estado importa o produto de outras regiões do país
para atender a demanda interna.