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Pesquisa busca variedade de arroz resistente ao percevejo-do-colmo
February 15, 2005

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) - vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e a Universidade Estadual do Maranhão estão investigando quais variedades de arroz têm constituição genotípica resistente a uma praga bastante corriqueira nas lavouras. Os pesquisadores a designam Tibraca limbativentis Stal; os produtores a conhecem por percevejo-do-colmo e, regionalmente, os orizicultores do Maranhão a chamam de “cangapara”, devido à semelhança entre o inseto e um quelônio homônimo, muito comum na baixada maranhense.

Nenhuma variedade de arroz comercializada é totalmente resistente ao percevejo-do-colmo. Entretanto, a pesquisa possui pistas de que existem diferenças significativas no nível de dano causado pelo inseto aos distintos genótipos de arroz. De acordo com Evane Ferreira, coordenador do trabalho, há grande oscilação na porcentagem e no número de colmos (caule do arroz) danificados por causa da alimentação do inseto, conforme a variedade cultivada.

Para identificar quais plantas são mais resistentes, foi implantado na Embrapa Arroz e Feijão,(Santo Antônio de Goiás – GO), um ensaio em ambiente controlado. Foi realizada a criação do inseto em casa de vegetação e plantas com mais de 20 dias de idade foram infestadas com populações de ninfas (fase jovem) do inseto, de idênticas idades.

A metodologia utilizada no ensaio é o delineamento experimental de blocos aumentados de Federer, com dez repetições de 10 variedades cultivadas, sendo cada uma com seis materiais de arroz do Maranhão e mais quatro testemunhas, variedades cuja resistência ao inseto é conhecida. Ao todo estão em avaliação 60 materiais de arroz do Maranhão em relação as quatro testemunhas. Evane Ferreira diz que estão sob estudo as três diferentes formas de resistência de planta em relação ao percevejo-do-colmo, a saber a antixenose, a tolerância e a antibiose.

“Na antixenose, vamos averiguar quais são as variedades preferidas pela praga para sua alimentação e abrigo. No segundo caso, acompanharemos a capacidade das variedades em suportar o ataque do percevejo e, no último, observaremos se há algum efeito das variedades sobre o crescimento e fases de  desenvolvimento do inseto”, explica o entomologista.

Segundo ele, a avaliação final para antixenose será feita a partir da concentração de adultos da espécie e de seus sintomas de ataque nas plantas das variedades submetidas a sua escolha em cada repetição. Ou seja, será realizada pelos números de folhas centrais mortas, popularmente “coração morto”, quando visível, e nas plantas mais desenvolvidas pelo número de “panículas parcial ou totalmente brancas”, isto é, panículas com intensidade variável de falhas no enchimento de grãos.

Para tolerância, será levado em conta o número de colmos vivos e mortos de cada variedade, quando o inseto atingir a fase adulta, em relação ao número  de colmos de cada variedade (parcela) colocados inicialmente à disposição das ninfas. E, para a antibiose, será aferida a sobrevivência, o desenvolvimento e a massa corporal dos insetos no término do experimento. Posteriormente, será feito estudo sobre a razão sexual e taxa de fecundidade dos adultos.

Esse trabalho preliminar de identificação das três distintas interações inseto-planta deve durar mais 40 dias. “Depois disso, os parâmetros citados serão submetidos à análise estatística e os resultados vão indicar quais as variedades que devem passar para avaliações mais acuradas de resistência ao percevejo”,  afirma Evane Ferreira.

A bolsista do CNPq, Joseane de Souza, conta que o percevejo-do-colmo é a principal praga do arroz naquele Estado, presente em municípios como Balsas, Grajaú, Imperatriz, Barra do Corda, Codó, Bacabal, Santa Luzia, Arari, Bom Jardim e São Mateus. Ela diz que em condições favoráveis o inseto é bastante nocivo e pode causar perdas de até 80% na produção. Segundo a literatura, apenas dois percevejos por metro quadrado são capazes de reduzir o rendimento de grãos em cerca de 600 quilos por hectare.

Para Joseane de Souza, a pesquisa de variedades de arroz resistentes à praga beneficiará principalmente pequenos produtores. “A orizicultura no Maranhão é feita de forma rudimentar, sem o uso de tecnologias apropriadas. Portanto, a utilização de plantas que possuam maior resistência genética é uma boa opção, pois não exige conhecimentos técnicos específicos, além de não ser poluente nem acarretar ônus ao custo de produção”, argumenta.

Evane Ferreira esclarece ainda que estratégias de controle da praga via defensivos são de difícil emprego. É que o percevejo-do-colmo fica durante muito tempo na base da planta, principalmente quando jovem, sendo necessário grande volume de calda inseticida para alcançá-lo.

O ataque do percevejo às plantas, segundo Evane Ferreira, ocorre a partir de 20 dias após a emergência do arroz. As ninfas do percevejo posicionam-se mais perto do solo, colocando-se de cabeça para baixo para sugar a base do colmo. Já os insetos adultos, que surgem em aproximadamente 43 dias após a eclosão dos ovos, preferem picar as hastes mais desenvolvidas.

Conforme Evane Ferreira, o percevejo-do-colmo é capaz de completar duas gerações durante o período normal de permanência do arroz no campo. Geralmente, há ainda uma terceira geração que se completa nos restos da cultura e que migrarão para plantas hospedeiras onde permanecem até a próxima safra, quando retornarão à lavoura.

O entomologista afirma que o percevejo-do-colmo está presente nos sistemas de cultivo de terras altas, de irrigação por inundação e de várzea úmida, assumindo neste último maior importância dada a ausência de lâmina d´água sobre o solo, o que permite ao inseto se localizar na base das plantas, entre os colmos, em contato com a umidade superficial, condição favorável ao aumento populacional da praga.

Após a identificação dos genótipos de arroz resistentes ao percevejo-do-colmo, deverão ser repetidos os ensaios, novamente, em ambientes controlados, para certificação de que os materiais são realmente promissores. Só depois disso, as variedades serão recomendadas como alternativa de controle à praga ou para inclusão em trabalhos de melhoramento genético da cultura.

A pesquisa com variedades de arroz para resistência ao percevejo-do-colmo tem parceria com o Departamento de Fitotecnia e Fitossanidade da Universidade Estadual do Maranhão e conta com a participação do professor Evandro Ferreira das Chagas.

No Maranhão, o arroz é cultura de subsistência, sendo o principal alimento das famílias. Com uma produção em torno de 650 mil toneladas (7% da produção nacional), o Estado importa o produto de outras regiões do país para atender a demanda interna.

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