Apesar da boa qualidade do trigo
na última safra, a colheita não se refletiu em preços no
mercado. Embora a crise na triticultura pareça generalizada,
alguns produtores gaúchos estão mostrando que ainda é possível
lucrar com o trigo. Tecnologia e gerenciamento são as garantias
do negócio.
Nos últimos anos, a
produtividade de trigo das lavouras na Região Sul do Brasil
manteve a média de 2 mil kg/ha (cerca de 33 sc/ha). O
rendimento dessas lavouras representa, em preços médios de
dezembro, do período de 1999-2003 no Rio Grande do Sul, segundo
a Emater/RS (R$22,50 sc. 60kg), cerca de R$ 750,00 por hectare.
Considerando o custo variável da lavoura estimado em R$
744,00/ha e os custos totais em R$1.100,00/ha é possível
entender porque a triticultura está em crise.
Segundo a pesquisadora da
Embrapa Trigo (Passo
Fundo, RS), Cláudia De Mori, especializada em economia agrícola,
a saída para aliviar a pressão de baixa sobre os preços na safra
2003 foram as exportações (1,37 milhões de toneladas foram
exportadas), uma vez que existia um cenário de queda de produção
em alguns países e de preços internacionais elevados. Contudo,
neste momento, ocorre a recuperação da produção mundial (em
torno de 610 milhões de toneladas) e os preços no mercado
internacional estão em baixa: “Em Chicago, o trigo, em dezembro,
apresentou a cotação mais baixa dos últimos 18 meses, chegando a
110 dólares a tonelada. Em 2003, nesta época o preço estava em
US$140,00.”, avalia a pesquisadora.
Para contornar o problema, o
produtor gaúcho está investindo em tecnologia capaz de aumentar
a produtividade e reduzir os custos. Entre as alternativas estão
as novas cultivares de trigo disponíveis no mercado, cujo
potencial de rendimento ultrapassa os 4 mil kg/ha. “O aumento da
produtividade reduz os custos por unidade de produção e garante
a lucratividade da lavoura”, argumenta Cláudia De Mori.
Desta forma, segundo a
pesquisadora, a escolha de variedades mais resistentes a doenças
que incidem na região e de alto potencial produtivo, na
avaliação do nível de tecnologia versus custo de produção, são
aspectos importantes para garantir a sustentabilidade da
lavoura. Além disso, é importante lembrar dos benefícios
indiretos do trigo nas lavouras de verão (aumento de produção,
melhor distribuição de adubação, acúmulo de matéria orgânica e
reciclagem de nutrientes) e no rateio dos custos fixos,
considerando dois plantios no ano.
Produtor marca recorde de 86
sacas por hectare
O Planalto Superior Gaúcho é
reconhecido como a melhor região para o plantio do trigo no
sistema de sequeiro no Brasil, geralmente apresentando os
maiores rendimentos do país. Contudo, na última safra a
produtividade máxima em lavouras comerciais – registrada em 65 a
70 sacos por hectare nos últimos anos – atingiu o recorde de 86
sc/ha (5.160 kg/ha) na safra 2003.
O trigo semente básica foi
colhido em Vacaria, RS, numa área de 26 hectares plantados com a
cultivar BRS Louro. Considerando o investimento em sementes
certificadas, adubação e tratamentos fitossanitários, o
administrador da fazenda, Franco Stédile, garante que o custo
total não passou de R$ 900,00/ha. A produtividade também foi
alta em outras cultivares, como BRS Camboatá, Pampeano e BRS
Angico, com aproximadamente, 70 sc/ha. Em meio as oito
diferentes cultivares plantadas em 2.300 hectares, a média geral
do trigo na fazenda foi de 63 sc/ha. “Se o produtor não aplicar
parte dos lucros em tecnologia, certamente vai entrar em crise”,
sentencia Franco Stédile.
Para o pesquisador da Embrapa
Trigo,Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária-Embrapa, vinculada ao Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Pedro Sheeren, o Rio
Grande do Sul pode aumentar a média de produtividade para
próximo de 3 mil kg/ha (50 sc/ha), ou seja, 17 sacas a mais do
que a média atual, volume que pode representar, no mínimo, R$
300,00/ha de lucro ao produtor. “A tecnologia não está apenas na
semente, na quatidade de adubo, no fungicida. A produtividade é
resultado de uma série de fatores que, excluindo os elementos
climáticos, podem ser administrados de maneira racional pelo
produtor, como análise de solo, avaliação da época de semeadura
ou precisão nos tratamentos fitossanitários.
Basta seguir as práticas
recomendadas pela pesquisa para chegar a bons rendimentos e
aumentar a competitividade do nosso trigo no mercado mundial”,
conclui Scheeren, lembrando que as orientações para uma boa
produção estão no documento Indicações Técnicas da Comissão
Sul-Brasileira de Pesquisa de Trigo 2003, disponível no site da
Embrapa Trigo:
www.cnpt.embrapa.br.