São Paulo, Brasil
October 15, 2004
Liésio Pereira
Repórter da Agência
Brasil
“As medidas tomadas pelo governo em relação à produção de
transgênicos no país desconsideram os produtores orgânicos e
não-transgênicos como cidadãos”, analisou o presidente do
Instituto Biodinâmico (IBD), Alexandre Arcari, sobre a medida
provisória (MP) que autoriza o plantio de soja transgênica na
safra 2004/2005. O IBD é o maior certificador de alimentos
orgânicos (produzidos sem insumos industriais) do Brasil.
“Existe todo um setor na sociedade, menos poderoso, que são os
produtores orgânicos e os produtores convencionais
não-transgênicos – que preferem ficar não-transgênicos – que
estão sendo contaminados e sendo levados nesse ‘rolo
compressor’, nessa ‘avalanche’. Isso é muito ruim, porque você
acaba beneficiando um setor em detrimento total do outro setor.
Os direitos não estão sendo preservados”, disse.
Arcari alertou que plantações inteiras de produtos orgânicos
[alimentos produzidos sem insumos industriais] estão sendo
eliminadas porque são detectados genes transgênicos nas plantas.
Além disso, os produtores perdem a certificação de seus produtos
por causa da contaminação. “[A contaminação] é um dos principais
problemas dos agricultores orgânicos. Para dar um exemplo, nos
outros países onde os transgênicos existem há mais tempo -
Estados Unidos, Canadá – as sementes não transgênicas estão
sendo contaminadas, e isso acontece de uma maneira
involuntária”, disse.
Ele explicou que, se um produtor transgênico cultiva sua
plantação ao lado de um orgânico ou não transgênico, acaba
contaminando o vizinho, principalmente em relação às plantas de
polinização cruzada [(transferência de pólen de uma flor para
outra na mesma planta ou em plantas diferentes]. “Com a soja,
que é autofecundante, esse cruzamento não acontece com tanto
risco, mas a contaminação se dá através do uso das máquinas, dos
beneficiamentos, dos portos”, explicou. |