March 16, 2004
Pesquisadores
da Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento, estão a um passo de
lançar no mercado de hortaliças uma variedade de cebola que não
provoca choro involuntário quando descascada, não deixa o
característico hálito quando ingerida e que pode ser comida como
fruta in natura por ter um sabor quase doce. Os pesquisadores da
Embrapa Semi-árido (Petrolina-PE), utilizando método de
melhoramento genético chamado de seleção recorrente, estão
iniciando o terceiro ciclo de avaliação para a cebola com baixo
teor de pungência - nome que expressa o sabor picante dessa
hortaliça. Os resultados são muitos promissores, revela o
pesquisador Carlos Antonio Fernandes Santos.
O sabor picante das cebolas está
relacionado à presença do ácido chamado pirúvico. Quando
cortada, mastigada ou macerada a cebola sofre reações químicas
que fazem ressaltar a presença desse ácido no bulbo. Quanto
maior asua quantidade, mais acentuada será a pungência. A
pesquisa da Embrapa Semi-Árido está identificando bulbos com
baixa incidência do ácido pirúvico. Da variedade Alfa Tropical,
desenvolvida pela Embrapa Hortaliças (Brasília-DF), já se tem
selecionado bulbos com teores dessa substância abaixo de 3
micromol por miligrama. Uma cebola com essa característica pode
ser classificada como super doce, explica Carlos Antonio.
O pesquisador estima que até o final desse ano ou, no máximo,
início do próximo, já se terá um material para ser cultivado em
áreas piloto. Para ele, é um prazo razoável e estratégico para
os negócios do setor: com a cebola doce o Brasil pode almejar
conquistar novas oportunidades de exportação e aumentar o
consumo nacional da cebola. O mercado internacional de cebola é
amplamente dominado por variedades doces. Além disso, a cebola
pesquisada na Embrapa Semi-Árido é totalmente adaptada às
condições ambientais do Nordeste brasileiro. Questões técnicas
relacionadas ao ajuste do método de pesquisa e a definição de
procedimentos rotineiros de quantificação do ácido pirúvico nos
bulbos já foram equacionado pelos pesquisadores do Laboratório
de Fisiologia Pós-Colheita da Embrapa Semi-Árido, Joston Simão
Assis e Maria Aparecida Coelho Lima, o que deve acelerar a
identificação da nova cultivar de cebola doce
As sementes de cebola doce disponíveis no mercado brasileiro
atualmente são importadas dos Estados Unidos. O desenvolvimento
de uma variedade brasileira traz vantagens significativas para
os negócios agrícolas do setor. Carlos Antonio elenca alguns
deles: o país economizará divisas ao deixar de importar, a
produção de sementes pode ocorrer em âmbito local (o que
estimula a geração de renda e de oportunidades de emprego) e
serão reduzidos os riscos de infestação de pragas já que o
material importado é bem susceptível. Outra vantagem poderá ser
o aumento do consumo nacional, devido ao apelo terapêutico da
cebola, quer poderá estabilizar os preços para os produtores.
Outra grande vantagem da cebola doce apontada pelo pesquisador
está nas suas propriedades terapêuticas. Ela contém substâncias
que impedem a formação de plaquetas no sangue e reduzem os
riscos de entupimentos das veias do coração e doenças
cardiovasculares. Alguns estudos também relacionam a redução de
colo retal ao consumo de cebola, em especial crua: a passagem da
cebola pelo processo de cozimento ocasiona a perda dessas
substâncias e do sabor. "Uma cebola de sabor doces com essas
propriedades medicinais terá forte apelo para comercialização,
já que esse tipo de produto já domina o mercado internacional e
deve crescer sua participação no mercado interno", conclui
Carlos Antonio. |