Fortaleza, Brazil
July 19, 2004
Olga Bardawill
Repórter da Agência
Brasil
O coordenador nacional do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) João
Pedro Stédile não poupou criticas ao ministro Aldo Rebelo, a
quem acusou de ter “estranhamente cedido", como líder do governo
na Câmara, "às pressões dos ruralistas, das multinacionais e dos
laboratórios” para mudar completamente a Lei de Biossegurança,
cuja proposta elaborada pela casa Civil “era boa”, porque foi
formulada em consenso entre as diversas áreas governamentais
ambientalistas e “nós, da Via Campesina e da Fetraf”. Stédile
veio à capital cearense para um debate com alunos de comunicação
na Universidade Federal do Ceará, na noite da última
sexta-feira.
"Ficou uma lei esdrúxula, porque incorporou a liberação da soja
transgênica, quando, dentro dela, tem um outro artigo dizendo
que só pode liberar semente transgênica com o Relatório de
Impacto Ambiental". Segundo Stédile o governo só liberou a soja
transgênica porque “sofreu uma emboscada do PMDB do Rio Grande
do Sul, que chantageou: ou libera a soja transgênica ou eu voto
contra a Previdência".
"Para não perder os votos, o governo liberou. Ou seja, legitimou
o contrabando da Monsanto que vinha há três anos”. João Pedro
Stédile lembrou que o governo podia ter liberado a soja
transgênica apenas para a exportação e não para o mercado
interno, mas, na sua avaliação, houve uma “outra emboscada que o
governo não teve coragem de enfrentar”.
"Ainda está em vigor a Lei Kandir, que isenta de ICMS as
exportações de produtos agrícolas, inclusive a soja. Então, sem
a produção do Rio Grande, que é majoritariamente transgênica e
ia tudo para exportação, o governo do Rio Grande quebraria,
porque não recolheria ICMS dessa soja. O governo federal se
rendeu às pressões do PMDB e editou a Medida Provisória”.
Stédile voltou a defender um plebiscito para decidir sobre a
questão dos transgênicos: "Porque não se pode simplesmente dizer
que o Congresso é o legitimo representante do povo. Então, o
Congresso legalizou os bingos. Aí pode? Uma coisa que é de uma
máfia de ladrões sem vergonhas que toma o dinheiro dos
aposentados e todo mundo sabe disso!" |